Também conhecida como transtorno do pânico, a doença é vinculada a grandes cidades e à atribulada vida moderna, mas, para o psiquiatra Wolf Glauco Diniz Duarte, esta associação não é automática.
Segundo ele, a síndrome do pânico pode atacar qualquer pessoa, em qualquer lugar, pois sua ocorrência depende do limiar individual ao lidar com as tensões do dia a dia.
Caracterizado principalmente por crises (intensas e constantes) de ansiedade sem motivo determinante, o problema pode aparecer a qualquer hora e o temor de perder o controle ou enlouquecer, além do medo de morrer, se tornam fatores constantes. “A ocorrência desses colapsos pode estar ligada a uma situação particular, mas normalmente o ataque de pânico vem do nada, tem caráter imprevisível”, explica o médico.
Outros sintomas inerentes a essas crises, que às vezes duram apenas dez minutos, são:
– Palpitações ou aceleração cardíaca;
– suor excessivo;
– tremores ou abalos;
– sensações de falta de ar ou sufocamento;
– sensações de asfixia;
– dor ou desconforto torácico;
– náusea ou desconforto abdominal;
– sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio;
– desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (estar distanciado de si mesmo);
– sensação de perda de sensibilidade (anestesia ou formigamento); e
– calafrios ou ondas de calor.
Os níveis do medo
Para quem acha que a síndrome do pânico está só na cabeça de quem sofre com a doença, o médico faz um alerta: “Todas essas percepções e medos são reais para a pessoa envolvida”.
Segundo Glauco, o tratamento tende a ser longo, pois, como essas vivências são traumáticas, é natural que os que são acometidos por elas precisem de um tempo para voltar à vida normal sem relacionar qualquer sintoma a uma iminente recaída, superando o medo do medo.
A sua descrição baseia-se nos códigos de doença mental, envolvendo critérios estatísticos que levam em conta frequência, intensidade, número de sintomas envolvidos, idade e sexo.
“Teoricamente uma pessoa que tenha idade entre o fim da adolescência até a faixa dos 30 anos, seja mulher, apresente frequência contínua de ataques e a maioria dos sintomas listados, provavelmente apresentará um quadro “forte” da doença”, diz.
Mas o médico chama atenção para a situação real, na qual tudo depende muito da capacidade emocional de cada pessoa, do modo como ela vive e reage aos episódios causados pela síndrome. “Às vezes, crises de menor intensidade podem ter repercussão maior”, completa.
Possíveis causas e perfis propensos
Para Glauco, apesar de a doença às vezes surgir sem um motivo aparente, também pode ser desencadeada quando há perda de pessoas próximas ou com o rompimento de relacionamentos importantes, como a saída de um jovem da casa dos pais para morar sozinho e um divórcio.
Nesses casos, estatisticamente, a depressão está diretamente relacionada ao transtorno, apresentando quadros graves entre 50% a 65% dos pacientes. “Além disso, 1/3 das crises de depressão precede o transtorno de pânico e 2/3 acontecem durante ou após a doença. Esse é um exemplo do que chamamos de comorbidades, a presença de mais de uma doença atuando na pessoa”, aponta.
E sabe aquelas pessoas com manias exageradas, como limpar a casa constantemente, não pisar em linhas, ou que mantêm tudo sempre em ordem, ficando irritadas quando alguém tira uma pequena agulha do lugar? Essa necessidade imperiosa de repetir ideias ou comportamentos pode caracterizar o “transtorno obsessivo compulsivo”, o famoso TOC, e, segundo o médico, entre 8% e 10% das pessoas com esse tipo de problema chegam a desenvolver a síndrome.
Aqueles que se encontram na faixa etária que compreende o fim da adolescência e os 30 anos e as mulheres, por estarem mais suscetíveis às variações hormonais, têm maior propensão a apresentar a doença. Já entre crianças e adultos após os 45 anos, a tendência é bem menor.
Prevenção
É importante que, aos primeiros sinais, a pessoa procure ajuda e, independente de apresentar ou não crises de ansiedade, observe sempre quais são suas fontes de angústia.
O tratamento
Muitos pacientes, no início da doença, não sabem exatamente o que têm e chegam a consultar diversos especialistas. Mas os mais indicados são os psiquiatras ou aqueles que possuem experiência em quadros de doenças mentais. “Como esse transtorno invade a vida das pessoas de repente, considero importante que haja uma associação de medicamentos com a psicoterapia, cuja função é a de amparar, fazer com que elas se conheçam melhor e possam ter mais recursos para lidar com suas angústias. Isso faz com que fiquem menos predispostas a recaídas”, afirma o psiquiatra.
O tratamento da síndrome tem mais sucesso quando é tratado logo no começo. “Quanto mais cedo houver intervenção, melhor”, acredita doutor Glauco.
Ele esclarece que a terapêutica medicamentosa do transtorno do pânico possui três fases:
– ajuste da dose de remédio(s) que inibam os sintomas, período que pode durar de 20 a 30 dias, dependendo da resposta do paciente;
– fase de manutenção: com o objetivo de solidificar a resposta terapêutica, os medicamentos são mantidos por, no mínimo, seis meses. A pessoa passa a recuperar sua autoconfiança, volta a levar uma vida normal, sem medo de voltar a ter crises ou de desenvolver um “comportamento de esquiva”, em que evita situações que propiciem, concreta ou imaginariamente, a possibilidade de crise;
– lenta retirada da medicação: quando a pessoa é propensa a recaídas, durante ou após o tratamento, haverá necessidade de ajuste medicamentoso e/ou maior tempo de manutenção.
Além disso, é indicado, também, incentivar a pessoa a procurar a psicoterapia, praticar uma atividade física regular, adotar um programa de reeducação e desintoxicação alimentar.
Está certo que, mesmo com tantos cuidados, a cura nem sempre é atingida, mas é importante observar que há uma diminuição considerável dos sintomas em grande parte dos casos.