De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, no início do século XX, ela ficou conhecida como eletrochoque, e aterrorizou o inconsciente de inúmeros portadores de transtornos psiquiátricos, após Hipócrates, o ”pai da medicina”, notar que as convulsões induzidas por malária em pacientes insanos eram capaz de curá-los. Com o desenvolvimento da técnica, os pacientes considerados “loucos” recebiam estímulos elétricos cerebrais para induzir convulsões. O doente era amarrado em uma maca e recebia forte choque através de placas colocadas na cabeça. O que se via e ouvia após isso, eram gritos e contorcimentos de dor.

Quase um século depois, a técnica evolui, hoje se chama eletroconvulsoterapia (ECT), foi reconhecida e regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina e tem salvado cada vez mais vidas. “O procedimento é seguro,” afirma Glauco.

A volta dos estímulos elétricos aconteceu após a constatação de que os remédios não dão conta de tudo. O ECTé eficaz em até 90% dos casos de depressão grave, refratários a medicamentos. “A gente sabe que 30% dos pacientes não respondem a medicação e é, principalmente nesses casos, que o ECT está indicado.

Depois de três tentativas de medicação, médico deve prescrever esse tipo de tratamento,” afirma Glauco.
No mundo, grande parte dos centros de referência psiquiátrica, usam o método. “A eletroconvulsoterapia funciona através de um pequeno estimulo elétrico, menor do que levar um choque na tomada, nas têmporas, e provoca uma alteração nas ondas cerebrais, como se fosse uma convulsão.

Antigamente, esse choque causava no paciente uma crise convulsiva. Atualmente, o procedimento é feito sobre o efeito de anestesia, por isso não tem tremor, nem contração muscular, percebemos a alteração das ondas cerebrais através da monitorização eletroencefalográfica. O paciente dorme profundamente, e não sente nada,” garante Glauco.

A aplicação do ECT dura em média de 10 a 30 segundos, já o procedimento todo, vai de 30 a 45 minutos. A demora é com a preparação do paciente, já que ele é anestesiado e imobilizado. Dois eletrodos são colocados, então, em sua cabeça e suas atividades vitais passam a ser monitoradas. As descargas elétricas, cada uma de cerca de dois segundos, são o suficiente para acender uma lâmpada de 20 watts por alguns instantes. Por causa da anestesia, nenhum deles se lembra do procedimento. “O procedimento é bem rápido, a única demora, é justamente a parte da anestesia, é preciso à confirmação de que o paciente dorme profundamente e não sente nada,” explica Glauco.

Ainda segundo Glauco, o tratamento é tão seguro, que é o mais indicado no caso de grávidas que possuem patologias psiquiátricas. “O ECT é indicado em casos específicos de esquizofrenia e transtornos psicóticos. Também em quadros de depressão, e nos transtornos afetivos bipolar, tanto no momento da depressão, quanto no de euforia. Quando um quadro é muito grave, e envolve risco de suicídio muito grande, a eletroconvulsoterapia é indicado em primeiro caso, já que é muito mais rápido como solução quando comparada com medicações como antidepressivos e antipsicóticos. O que muita gente não sabe, é que muitas grávidas passam por esse tratamento. O que acontece é que a maioria das medicações podem afetar o feto, e dependendo da patologia da mãe, essa é técnica é usada,” conta.

Atualmente, 700 milhões de pessoas no mundo sofrem de problemas mentais. Estima-se que dois milhões de brasileiros e aproximadamente 60 milhões em todo o mundo sejam portadores de esquizofrenia, 10% deles, cometem suicídio. De acordo com OMS (Organização Mundial de Saúde), até 2020 a depressão será a principal doença mais incapacitante em todo o mundo. Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas sofrem com a depressão no mundo – só no Brasil, são 17 milhões. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença.