O alcoolismo não é, como a maioria das pessoas pensa, uma desculpa para fugir ou enfrentar os problemas. De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, a predisposição para a dependência da ingestão de bebida alcoólica é uma doença e deve ser tratada como tal. Glauco explica que o vício vem, normalmente, atrelado a outras características do indivíduo, como depressão, timidez patológica (fobia social), bipolaridade e transtorno de ansiedade, dentre outros. “Um adolescente tímido recorre à bebida alcoólica para diminuir o sentimento de vergonha, se desinibir e se aproximar das pessoas”, exemplifica.
No tratamento do alcoolismo, é fundamental saber se há doenças anteriores à instalação da dependência que contribuíram para o vício. Isso porque, do ponto de vista psicológico (comportamental) e biológico, está comprovado que o álcool age como uma automedicação. Para aliviar um sentimento, seja uma dor ou uma experiência de prazer que a pessoa biologicamente ou psicologicamente não seria capaz, ela procura o álcool.
Glauco explica que existe uma carga genética para o alcoolismo, mas que ainda é difícil identificar onde ela se manifesta: se no processo de metabolização ou no processo denominado recompensa. De acordo com Glauco, a cultura também influencia, mas não é o fator de risco principal. “Existe uma carga genética, com certeza. E existe também uma vulnerabilidade para a dependência. Em geral, as pessoas que se tornam dependentes têm predisposição psicobiológica”, explica. Glauco também descarta o alcoolismo como fuga para os problemas. “Toda a experiência de prazer é imediatamente entendida pelo sistema nervoso central como recompensa. O organismo produz substâncias que possibilitam ao indivíduo relaxar, assim como também é esperado nos medicamentos”, diz.
A dependência
A dependência do alcoolismo pode ser dividida de duas formas, ainda que ambas tenham causas psicológicas e biológicas. A primeira delas, denominada não fisiológica, surge como uma dificuldade em abster-se de beber ou de controlar o consumo e a quantidade, mesmo sabendo que, desta maneira, a pessoa está atentando contra a própria vida. A outra dependência, a fisiológica, é quando, além do fenômeno já descrito acima, ocorre também a síndrome de abstinência, ou seja, o resultado da falta da bebida alcoólica no organismo, causando sintomas como tremores e insônia.
Tratamento
A dependência do álcool não é tratada, pela maioria das pessoas, como uma doença. Por conta disto, inúmeras famílias internam os dependentes em clínicas não preparadas para recebê-los. A maioria delas não dispõe, por exemplo, de psiquiatras e psicólogos para o acompanhamento do paciente. “Muito menos avaliam as condições que levaram o dependente ao vício. Estas clínicas não podem ser consideradas adequadas para tratamento porque não abordam a patologia médica”, explica Glauco.
De acordo com ele, é preciso tratar causas e fatores (doenças que estão previamente associadas). Cerca de 80% dos alcoólatras têm doenças psiquiátricas associadas. Desses, 90% desenvolvem patologias causadas pelo álcool. “Tem três tipos de patologias nos alcoólatras: as anteriores ao alcoolismo, que são agravadas, a própria dependência do álcool e aquelas que são causadas pelo alcoolismo. Do que você trata nessas clínicas: nada”, reforçou.
A avaliação do psiquiatra é fundamental para estabelecer o tipo de dependência e as comorbidades, ou seja, outras doenças relacionadas ao alcoolismo. Diante disso, é possível estabelecer o programa de tratamento, primando pela individualidade do paciente. “Hoje em dia, você tem substâncias chamadas antagonistas opióides, que funcionam agindo no sistema de recompensa, diminuindo a vontade de beber com eficácia assustadora. Só se consegue melhorar o alcoólatra desta forma. São substâncias que agem no sistema de recompensa, desconectando a experiência do consumo com a do prazer”, diz Glauco.