De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, o tratamento contra o transtorno bipolar, que atinge aproximadamente 2% da população mundial, não avança há 20 anos – e a melhor terapia para a doença é a mesma desde 1949. Em parte, isso se deve à insuficiência de conhecimentos novos sobre o distúrbio, quadro que também acaba atrapalhando a forma como o diagnóstico da bipolaridade é feito: ou seja, somente com base nos sintomas clínicos apresentados pelos pacientes. O diagnóstico impreciso muitas vezes faz com que uma pessoa com transtorno bipolar seja detectada com depressão, ou então com que ela espere anos a fio até receber um diagnostico correto.
Segundo Glauco esses são alguns dos problemas apontados por uma série de artigos publicados em uma edição especial sobre o transtorno bipolar da renomada revista médica britânica The Lancet.
Glauco explica que o diagnóstico do transtorno bipolar, assim como o de todos os distúrbios mentais, não é orientado por marcadores biológicos, que podem ser detectados em um exame de sangue, por exemplo. Há fortes evidências de que os genes exerçam uma forte influência sobre o surgimento da doença, mas ainda não é possível diagnosticar a condição por meio de testes genéticos. Isso porque, embora vários genes que aumentam o risco do transtorno já tenham sido descobertos, ainda não foi identificado um mecanismo biológico que explique como esses genes afetam o risco de desenvolver o distúrbio.
Diagnóstico impreciso – Para Glauco, identificar marcadores biológicos relacionados ao transtorno bipolar é essencial para solucionar o problema do diagnóstico incorreto da doença. Glauco afirma que pessoas com a doença demoram de cinco a dez anos a partir do surgimento dos sintomas para que recebam o diagnóstico correto. É comum que esses pacientes sejam classificados a princípio como tendo depressão, já que sintomas depressivos são prevalentes entre indivíduos com bipolaridade. E há pacientes que passam a vida acreditando ter depressão – e sendo tratados para tal problema -, quando na verdade sofrem de transtorno bipolar.
“Isso é um grande problema, pois os medicamentos para essas duas condições são diferentes, e as drogas usadas para depressão podem até acentuar os sintomas do transtorno bipolar”, diz Glauco. “Porém, poucos estudos de neuroimagem, por exemplo, têm sido feitos em cérebros de pessoas com transtorno bipolar para compará-los com o de pessoas com transtorno depressão. É urgente a necessidade de pesquisas futuras nessa área.”