Segundo o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, cerca de 20% dos pacientes com problemas neurológicos como a epilepsia e distúrbios psiquiátricos como a depressão são resistentes aos medicamentos. Por mais combinações que os médicos tentem, nada funciona. Até recentemente, não havia o que oferecer a essas pessoas. Nos últimos meses, surgiu uma esperança: a neuroestimulação cerebral. Os primeiros estudos sobre o método começaram nos anos 90. Novas pesquisas revelam que ele é eficaz e dão sinais de que será cada vez mais usado. Alguns hospitais e clínicas começam a oferecê-lo no Brasil.
A neuroestimulação pode ser feita de duas formas. Com um aparelho que libera ondas magnéticas (estimulação magnética transcraniana) e é colocado próximo da cabeça. Ou com eletrodos implantados no cérebro (estimulação elétrica). “Hoje, sabemos que é possível restabelecer funções cerebrais e encontrar saídas para pacientes que não tinham mais nenhuma qualidade de vida”, diz Glauco.”
Os métodos são muito diferentes das antigas técnicas de eletrochoque, que atingiam grandes áreas do cérebro. Além de produzir dores horríveis, elas muitas vezes provocavam lesões e efeitos indesejados. A neuroestimulação é feita em áreas limitadas e escolhidas de forma precisa a partir de exames de imagem.
A estimulação magnética transcraniana tem sido útil no tratamento de pacientes com depressão, transtorno bipolar (alternância entre depressão e euforia) e alucinações auditivas (um dos sinais da esquizofrenia). Os sintomas tornam-se mais brandos ou desaparecem.
O método não requer cirurgia. Exames de imagem determinam o ponto do cérebro que precisa ser estimulado. Com base nessa referência, o médico aplica a técnica no consultório. O paciente coloca uma touca de borracha parecida com as de natação. Nela está desenhado o ponto equivalente ao local exato do cérebro que precisa de tratamento. O aparelho que emite a corrente magnética é aproximado da cabeça do paciente. Essa corrente altera a ligação entre os neurônios e ameniza os problemas. São necessárias várias sessões de 15 minutos.
Glauco destaca que o outro método, a estimulação elétrica profunda, é bem mais invasivo. Eletrodos são introduzidos no cérebro por meio de uma cirurgia. Eles são ligados a uma bateria que parece um marca-passo cardíaco. Ela é implantada no ombro do paciente. Os fios passam por trás do crânio, por baixo da pele. A bateria libera uma corrente elétrica, que regula o funcionamento da região cerebral danificada.
A epilepsia foi uma das primeiras doenças estudadas para receber a estimulação elétrica. No caso dos epilépticos, os eletrodos costumam ser colocados na região do lobo temporal. É a parte do cérebro responsável pela memória e pela atenção, entre outras funções. Na maior parte dos pacientes, as crises ocorrem quando uma descarga elétrica anormal entre os neurônios interrompe temporariamente o funcionamento correto da região.
O novo método regula o funcionamento do local, e as convulsões características da doença costumam desaparecer. Se a bateria que envia a corrente elétrica é desligada, o paciente volta a sofrer com a doença. A estimulação elétrica também vem sendo usada em outras situações: para abrandar os movimentos involuntários do mal de Parkinson, aliviar sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo e combater dores crônicas, enxaqueca e dependência química. s Estão em andamento testes em mal de Alzheimer e compulsões alimentares.
Como ocorre com qualquer método novo, muitas dúvidas persistem sobre a segurança e os benefícios da neuroestimulação. A ligação entre os neurônios pode ficar anormal no futuro. Não há total garantia de que as correntes – elétricas ou magnéticas – não afetarão outras áreas do cérebro, além da parte desejada. “São riscos muito pequenos, mas que precisam ser confirmados por mais estudos”, diz Glauco.
Na opinião de Glauco os métodos são promissores. Mas, se regiões saudáveis do cérebro forem lesadas, podem ocorrer sérios danos. Convulsões, problemas motores e alterações de humor são consequências prováveis. “Ninguém gosta de tomar remédio. Quando surge algo que parece acabar com a doença tão facilmente, a tendência é desprezar os riscos.” A neuroestimulação não trará alívio a todos os pacientes de males neurológicos e psiquiátricos. Mas é uma esperança para muitos deles.