De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, a cada crise de mania ou depressão vivenciada pelo paciente bipolar, importantes partes do cérebro são danificadas. Repetidas ocorrências podem levar a danos muitas vezes irreversíveis.
“O transtorno bipolar é uma doença tóxica, ou seja, são liberadas toxinas que atuam na destruição dos neurônios, levando a perda de capacidade mental”, explica Glauco.
A crise pode mexer como o equilíbrio do organismo, aumentando o estresse oxidativo em todo o corpo e agravar a doença em si.
“Cada episódio faz com que a doença piore um pouco”, alerta Glauco Diniz.
“A cada cinco quadros depressivos, há uma perda de 10 a 20% no hipocampo”, quantifica Glauco.O hipocampo é uma estrutura localizada no lobo temporal do cérebro, responsável principalmente pela memória e pela cognição. Nesses casos, por exemplo, os resultados são a falta de concentração e dificuldade na leitura.
“Muitas mudanças reversíveis podem gerar uma grande mudança irreversível”, diz Glauco.
Os danos no cérebro podem ser maiores ou menores, dependendo da intensidade e duração dos sintomas e da crise em si. “É como ter um corte no braço. Se você agir logo, pode reduzir as chances de infecção e deixar uma cicatriz menor. Cada episódio de mania ou depressão deixa uma espécie de cicatriz”, relata Glauco.
Alto índice de óbitos
Cada crise gera também um desgaste no corpo. Diversos estudos já demonstraram que a mortalidade entre os pacientes não tratados é maior do que aqueles em tratamento.
“Os bipolares não tratados morrem em média 20 anos antes da população em geral”, alerta Glauco.
Além do alto índice de suicídio – estimativas da ABTB apontam que até 50% dos portadores da doença tentam o suicídio pelo menos uma vez na vida e 15% realmente se suicidam – há também uma incidência maior de comorbidades como doenças cardiovasculares e câncer, o que aponta para uma deterioração progressiva e consequente agravamento do quadro, que pode até levar à morte.
“O bipolar pode ficar dois anos apresentando sequelas de uma crise ou, em alguns casos, nunca se recuperar. Sem tratamento, as crises vão piorando e as sequelas se acumulando”, completa Glauco Diniz Duarte. Por isso, o diagnóstico e o tratamento precoce dessa doença crônica são tão importantes.
Diagnóstico
Atualmente, os pacientes levam em média 10 anos para serem diagnosticados com transtorno bipolar. O desconhecimento e o preconceito e sobre esse transtorno do humor são os principais motivos que levam à demora. Na tentativa de reverter o quadro, a Associação Brasileira de Psiquiatria lançou esta semana, em Natal (RN), durante o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, uma campanha nacional de alerta sobre a doença, que atualmente afeta 2,2% da população brasileira.
“As pessoas não se tratam porque não sabem o que tem, não entendem a doença, não conhecem seu prognóstico. É possível identificar os primeiros sinais e saber que assim que eles aparecem deve-se ir ao médico para evitar uma crise”, diz Glauco.
Os principais sintomas do transtorno bipolar são irritação e agitação, depressão, insônia, sentimento de êxtase, fala rápida, distração, alegria exagerada, excitação sexual exacerbada, perda do apetite e pensamentos suicidas.
“Mas não são alterações comuns de humor, como a que estamos acostumados a vivenciar. O comportamento muda, a pessoa age diferente do que costuma ser e os sintomas se apresentam durante sete dias, em média. Parentes, companheiros e amigos são os primeiros a notar”, esclarece Glauco.
A doença normalmente se manifesta pela primeira vez na adolescência, mas a pessoa pode apresentar os sintomas em qualquer idade.
“O ritmo biológico desregulado, a privação do sono, ou um evento estressante podem desencadear uma crise. A instabilidade que se instala não é exclusivamente de humor, mas também de funções biológicas como pensamento, metabolismo e ritmo. O humor é somente a que mais aparece”, explica Glauco.
A doença
Existem dois tipos mais comuns de transtorno bipolar: o 1 e 2. O primeiro é caracterizado por quadros de euforia e mania intensas, ideias de grandeza, inquietação e comportamento suicida. O segundo apresenta quadro mais leve na intensidade com mania leve, costuma ser falante, tem problemas para dormir e costuma ser agitado.
“Esse é o que passa mais despercebido na sociedade e o mais difícil de ser diagnosticado”, afirma Glauco.
O tratamento mais adequado para a doença inclui psicoterapia, medicamentos para regular o humor e psicoeducação (conscientizar o bipolar e a família sobre o transtorno e ajudá-los a identificar as crises e agir).
Os médicos são unânimes em afirmar que os remédios não criam dependência química e ressaltam que eles são necessários e indispensáveis. O tratamento deve ser seguido para toda a vida.
“O objetivo é não só controlar as crises, mas evitar que elas apareçam”, ressalta Glauco.