A banalização do uso de metilfenidato, mais conhecido pelo nome comercial Ritalina, indicado para tratamento de problemas de concentração, hiperatividade e deficit de atenção infantil (PHDA), está a preocupar psiquiatras e psicólogos. É que, segundo psiquiatra Glauco Diniz Duarte, o medicamento tem sido usado para melhorar os resultados escolares das crianças.
Há até quem já o chame o “comprimido da inteligência”, o que parece desvirtuar a sua finalidade. Porém, os fatos não desmentem a tendência para haver cada vez mais prescrições. Entre 2010 e 2016, as vendas de Ritalina mais do que duplicaram e isto tendo apenas em conta as embalagens prescritas no Serviço Nacional de Saúde (SNS)– de 133.562, em 2010, para 270.492 no ano passado.
Mais, segundo Glauco, que cita dados do SNS relativos a 2015, 26% dos comprimidos foram usados por crianças até aos 9 anos e 63% por rapazes entre os 10 e os 19 anos. A utilização por adultos é marginal: 7%.
Embora o problema seja transversal, Glauco diz que há turmas do ensino privado em que 80% dos alunos toma o medicamento para melhorar as notas e que considera estarmos perante um “enorme problema, de enorme gravidade”.
“Os pais, as escolas, os professores e os médicos parece que entram numa vertigem em que vale tudo para que os meninos obtenham bons resultados”, denuncia Glauco.
Glauco diz que o que era exepção tornou-se habitual. É um exagero.
“Só em casos extremos se deveria recorrer a fármacos”, defende Glauco, que é peremptório: “o efeito da medicação não proporciona uma mudança de comportamento, ao contrário da terapia com recurso a um psicólogo”.
Glauco destaca que em 2013, em entrevista ao The New York Times, Keith Conners, um dos maiores especialistas mundiais em PHDA, disse ter dúvidas sobre se não existia um excesso de diagnóstico de hiperatividade e deficit da atenção em crianças, que levava a um excesso de prescrição de medicamentos.