O psiquiatra Glauco Diniz Duarte diz que consiste em sentimentos recorrentes ou persistentes de estar desconectado do próprio corpo ou de processos mentais, geralmente, com sensação de ser um observador externo da própria vida. Este transtorno é quase sempre desencadeado por estresse grave. O diagnóstico se baseia nos sintomas depois que outras causas possíveis forem descartadas. O tratamento consiste em psicoterapia.
Segundo Glauco, cerca de 20 a 40% da população geral já tiveram experiência transitória de despersonalização, com frequência, ligada à situação de perigo para a vida, intoxicação aguda por droga (maconha, alucinógenos, cetamina, ecstasy), privação sensorial ou privação de sono. A despersonalização também pode ocorrer como um sintoma em diversos outros transtornos mentais, assim como em distúrbios físicos, tais como distúrbios convulsivos (ictal ou pós-ictal). Quando acontece despersonalização independentemente de outro transtorno mental ou doença física e é persistente ou recorrente, há transtorno de despersonalização. Estima-se que suceda em cerca de 2% da população geral.
Sinais e sintomas
Glauco explica que os pacientes sentem-se desconectados de seus corpos, mentes, sentimentos ou sensações. Muitos pacientes também referem se sentir irreais (desrealização), como um autômato, como se estivessem em um sonho ou, de alguma forma, desconectados do mundo. Alguns pacientes não conseguem reconhecer ou descrever suas emoções (alexitimia). Os pacientes podem descrever a si mesmos como “zumbis”. Os sintomas quase sempre são incômodos e, quando graves, profundamente intoleráveis. Ansiedade e depressão são comuns.
Os sintomas muitas vezes são crônicos: cerca de um terço dos pacientes tem episódios recorrentes e dois terços têm sintomas contínuos. Sintomas episódicos algumas vezes se tornam contínuos.
Com frequência, os pacientes têm muita dificuldade em descrever seus sintomas e podem sentir ou acreditar que estão enlouquecendo. Eles sempre reconhecem que suas experiências irreais não são verdadeiras, sendo, ao contrário, apenas a maneira como se sentem. Essa consciência diferencia o transtorno de despersonalização de um transtorno psicótico, nos quais a crítica está sempre ausente.
Diagnóstico
• Avaliação médica e psiquiátrica
O diagnóstico se baseia nos sintomas após descartar doença física, abuso de substâncias e outros transtornos mentais (especialmente ansiedade, depressão e outros transtornos dissociativos). A avaliação inicial deve incluir RM e EEG para descartar causas físicas, particularmente, se os sintomas ou a progressão forem atípicos. Testes toxicológicos de urina também podem estar indicados.
Testes psicológicos e entrevistas e questionários estruturados especiais são úteis.
Prognóstico
Muitas vezes, destaca Glauco, os pacientes melhoram sem intervenção. A recuperação completa é possível para muitos pacientes, em especial se os sintomas resultaram de estresses tratáveis ou transitórios ou não forem prolongados. Em outros, a despersonalização se torna mais crônica e refratária.
Mesmo sintomas de despersonalização persistentes ou recorrentes podem causar apenas comprometimento leve se os pacientes puderem se distrair de suas sensações subjetivas, mantendo suas mentes ocupadas e focar em outros pensamentos ou atividades. Alguns pacientes se tornam incapacitados pela sensação crônica de estranheza, pela ansiedade ou depressão associada ou por ambas.
Tratamento
• Psicoterapia
O tratamento deve abordar todos os estressores associados ao início do transtorno, assim como estressores anteriores (p. ex., abuso emocional ou negligência na infância) que possam ter predisposto os pacientes ao posterior início da despersonalização.
Várias psicoterapias (p. ex., psicoterapia psicodinâmica, terapia cognitivo-comportamental) têm sucesso em alguns pacientes:
• Técnicas cognitivas podem ajudar a bloquear pensamentos obsessivos sobre o estado irreal de ser
• Técnicas comportamentais podem ajudar os pacientes a se engajarem em tarefas que os distraiam da despersonalização
• Técnicas de grounding usam os cinco sentidos (p. ex., tocar uma música alta ou segurar um pedaço de gelo na mão) para ajudar os pacientes a se sentirem mais conectados a si mesmos e ao mundo e mais reais naqueles momentos
• A terapia psicodinâmica foca nos conflitos subjacentes que tornam certos afetos intoleráveis para o self e que, dessa forma, são dissociados
• Rastrear momento a momento e rotular o afeto e a dissociação nas sessões de terapia funcionam bem para alguns pacientes
Vários medicamentos foram utilizados, mas nenhum claramente demonstrou eficácia. Entretanto, alguns pacientes são aparentemente ajudados por inibidores de recaptura de serotonina, lamotrigina, antagonistas opioides, ansiolíticos e estimulantes. Contudo, esses medicamentos podem estar focando, em grande parte, outros transtornos mentais (p. ex., ansiedade, depressão) que estão muitas vezes associados ou são precipitados pela despersonalização.