De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, caracteriza-se por identificação forte e persistente com o gênero oposto; as pessoas acreditam que são vítimas de acidente biológico e estão cruelmente aprisionadas em um corpo incompatível com sua identidade de gênero subjetiva. Aqueles com a forma mais extrema do transtorno de identidade de gênero são chamados transexuais. Esse transtorno é considerado um transtorno mental porque o corpo não se adéqua ao gênero psicológico da pessoa.
A identidade central de gênero é um sentimento subjetivo de conhecimento do gênero ao qual uma pessoa pertence, isto é, a consciência de que “sou homem” ou “sou mulher”. A identidade de gênero é o sentimento interno de masculinidade ou feminilidade. O papel sexual é a expressão objetiva e pública de ser homem, mulher ou andrógeno (misto). É tudo o que uma pessoa diz e faz para indicar às outras pessoas ou a si mesma o quanto é homem ou mulher. Para a maioria das pessoas, anatomia sexual, identidade de gênero e papel sexual são congruentes. Todavia, as pessoas com distúrbios de identidade de gênero experimentam algum grau de incongruência entre seu sexo anatômico e sua identidade de gênero. A incongruência experimentada por transexuais é, geralmente, completa, grave, perturbadora e duradoura. Rotular tal condição como “transtorno” pode aumentar o sofrimento e o termo não deve ser empregado como forma de julgamento. O tratamento visa ajudar os pacientes a se adaptarem, em vez de tentar dissuadi-lo de sua identidade; de todo modo, esta última abordagem é ineficiente.
Segundo Glauco, os comportamentos de papéis sexuais pertencem a um continuum de masculinidade e feminilidade tradicionais, com reconhecimento cultural crescente da existência de pessoas que não se adéquam à dicotomia homem-mulher tradicional. As culturas ocidentais são mais tolerantes com comportamentos masculinos em meninas jovens (os quais quase sempre não são considerados transtorno de identidade de gênero) que com comportamentos “femininos” ou efeminados em meninos. Muitos meninos brincam em papéis de meninas ou mães, inclusive experimentando as roupas de sua irmã ou mãe. Com frequência, esse comportamento faz parte do desenvolvimento normal. Somente em casos extremos é que esse comportamento e esse desejo expresso associado de ser do outro sexo persistem. A maioria dos meninos com transtorno de identidade de gênero na infância não apresentam o transtorno na idade adulta, mas muitos são homossexuais ou bissexuais.
Etiologia
Embora fatores biológicos (p. ex., o arcabouço genético, o meio hormonal pré-natal) determinem amplamente a identidade de gênero, a formação de identidade de gênero e de papel sexual seguro e sem conflito é influenciada por fatores sociais (p. ex., as características do vínculo emocional dos pais e a relação que cada um deles tem com a criança). Raramente, o transexualismo é associado à ambiguidade genital ou às anormalidades genéticas (p. ex., síndrome de Turner, síndrome de Klinefelter).
Quando classificação sexual e criação são confusas (p. ex., em casos de genitália ambígua ou síndromes genéticas que alteram a aparência dos genitais, como a síndrome de insensibilidade aos andrógenos), as crianças podem ficar incertas acerca de sua identidade de gênero ou de seu papel sexual, ainda que o nível de importância dos fatores ambientais permaneça controverso. Entretanto, quando classificação e criação não são ambíguas, mesmo a presença de genitália ambígua frequentemente não afeta a identidade de gênero da criança.
Sinais e sintomas
Glauco diz que problemas de identidade de gênero na infância estão geralmente presentes aos dois anos de idade. As crianças que sentem dificuldade com a identidade sexual, comumente fazem o seguinte:
• Preferem se vestir como o sexo oposto
• Insistem que são do sexo oposto
• Desejam intensa e persistentemente participar de jogos e atividades estereotípicos do outro sexo
• Possuem sentimentos negativos com relação a seus genitais
Por exemplo, uma menina jovem pode insistir que ainda lhe crescerá um pênis e ela se tornará um menino; ela pode ficar em pé para urinar. Um menino pode fantasiar sobre ser uma menina e evitar jogos de lutas e competitivos. Ele pode se sentar para urinar e querer se livrar de seu pênis e testículos. Para meninos com transtorno de identidade de gênero, o sofrimento com as mudanças físicas da puberdade é frequentemente seguido por um pedido durante a adolescência para tratamentos somáticos femininos. A maior parte das crianças com esse distúrbio não é avaliada até que tenha seis a nove anos de idade, um ponto em que o transtorno já é crônico.
Apesar de a maioria dos transexuais começarem a ter problemas de identidade de gênero na infância inicial, alguns não os apresentam até a idade adulta. Transexuais homens para mulheres costumam começar se vestindo como o sexo oposto e, só mais tarde, aceitam sua identidade de gênero cruzada. Casamento e serviço militar são comuns entre homens transexuais que querem fugir de seus sentimentos de identidade de gênero com o sexo oposto. Uma vez que eles aceitam seus sentimentos de gênero cruzado (transgênero), muitos transexuais adotam papel público do sexo feminino convincente. Alguns ficam satisfeitos ao dominar uma aparência mais feminina e obter um documento de identificação (p. ex., uma carteira de motorista) como mulher para ajudá-los a trabalhar e viver em sociedade como mulher. Outros experimentam problemas, que podem incluir depressão e comportamento suicida.
Diagnóstico
O diagnóstico em crianças requer a presença de ambos a seguir:
• Identificação com o gênero oposto (desejo de ser ou insistência em pertencer ao sexo oposto)
• Sensação de desconforto acerca do seu sexo ou inadequação substancial do papel sexual
Glauco explica que a identificação com o sexo oposto não deve ser meramente um desejo por vantagens culturais percebidas de pertencer ao outro sexo. Por exemplo, um menino que diz querer ser uma menina, de forma a receber o mesmo tratamento especial que sua irmã mais jovem recebe, não quer dizer, provavelmente, não tem um distúrbio de identidade de gênero.
A avaliação de adultos foca em determinar se existe sofrimento significativo ou óbvio comprometimento do funcionamento social, ocupacional ou de outras áreas importantes.
Tratamento
• Para pacientes selecionados e motivados, terapia hormonal, cirurgia de mudança de sexo e psicoterapia
Comportamentos de gênero cruzado, como se vestir como o gênero oposto, podem não necessitar de qualquer tratamento se ocorrerem sem sofrimento psicológico concomitante, sem comprometimento funcional ou se a pessoa tiver condição intersexual física (p. ex., hiperplasia adrenal congênita, genitais ambíguos, síndrome de insensibilidade aos andrógenos).
A maior parte dos transexuais que procura tratamento são homens que declaram identidade de gênero feminino e consideram seus genitais e suas características masculinas repugnantes. Entretanto, à medida que o tratamento progride, o transexualismo feminino para masculino é cada vez mais visto na prática médica e psiquiátrica. O objetivo primário do transexual ao procurar ajuda médica não é obter tratamento psicológico, mas obter hormônios e cirurgia genital, o que fará com que sua aparência física se aproxime de sua identidade de gênero. A combinação de psicoterapia, reorientação hormonal e cirurgia de reorientação sexual é frequentemente curativa quando o transtorno é diagnosticado apropriadamente e os médicos seguem o padrão aceito internacionalmente para o tratamento do transtorno de identidade sexual disponível na Associação Profissional Mundial para a Saúde do Transexual (WPATH, World Professional Association for Transgender Health).