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Tratamentos psiquiátricos passam por processo de humanização

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, a Psiquiatria, área da Medicina que estuda a psique humana e trata de transtornos mentais, tem uma história relativamente curta, mas cheia de reformulações e polêmicas. Apesar de também lidar com aspectos fisiopatológicos do indivíduo, a profissão sempre foi muito influenciada pelos conceitos de normalidade das sociedades. Conheça, abaixo, um pouco da evolução das abordagens e tratamentos já utilizados pelos psiquiatras.

Muitos consideram que o médico Philippe Pinel foi o fundador da Psiquiatria. Em 1800, o francês publicou o “Tratado Médico Filosófico sobre Alienação Mental ou Mania”. A partir desse momento, ele instituiria uma nova forma de lidar com os considerados ‘loucos’.

O ponto fundamental defendido por Pinel era o de que essas pessoas poderiam ter uma cura para seus transtornos. Até então, quem sofria de algum problema do tipo, era simplesmente aprisionado juntamente com mendigos, criminosos e outras pessoas consideradas “indesejáveis” pela sociedade.

“Pinel criou o chamado ‘tratamento moral’, muito influenciado pelos ideais do Iluminismo, que davam grande importância à razão”, afirma Glauco. A ideia era, em primeiro lugar, tirar o indivíduo de seu meio social, visto como um dos responsáveis pelo seu transtorno. Em seguida, o alienista (como eram chamados os psiquiatras), que deveria ser uma pessoa tida como totalmente idônea, se colocava como um modelo de referência para o interno.

Entre os métodos utilizados estava o simples apelo à razão, com tentativas de demonstrar à pessoa que suas ideias estavam erradas. Também foram desenvolvidos tratamentos físicos, ainda que alguns não possuíssem bases científicas. O uso da cadeira giratória, por exemplo, vinha da ideia de que os pensamentos do “louco” voltariam para o lugar certo caso ele ficasse rodando por um tempo. Já o banho frio tinha como objetivo “acordar” o paciente para a realidade.

Ao longo dos quase dois séculos seguintes à atuação de Pinel, o modelo manicomial foi constantemente trabalhado e guiou grande parte da prática psiquiátrica do mundo ocidental. “No início do Século 19, era considerado extremamente moderno para uma cidade ter uma instituição desse tipo”, conta Glauco.

Nesse contexto, em 1852, foi inaugurado o Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro, onde atualmente funciona o Palácio Universitário da Praia Vermelha, da UFRJ. De acordo com Glauco, o Pedro II foi construído nos mais avançados moldes europeus. Na época, a criação do lugar foi um marco na melhoria do atendimento psiquiátrico brasileiro, praticamente inexistente até então.

Até a metade do Século 20, foram desenvolvidas terapias que, de fato, causavam os efeitos desejados, mas eram brutais. A eletroconvulsoterapia (ECT) é o principal exemplo. O método, ainda utilizado, consiste em aplicar uma corrente elétrica no cérebro. “Antigamente, isso era feito com a pessoa acordada, mas hoje o paciente precisa estar sob anestesia geral”, diz Glauco. Segundo ele, esse tratamento produz resultados em alguns casos de depressão ou mania (uma “euforia” excessiva). “É como se fosse um banho de neurotransmissores (substâncias químicas produzidas pelos neurônios) no cérebro”, explica.

Nos anos 1950, começa o desenvolvimento dos medicamentos psiquiátricos, que inauguram uma nova era na área. O uso dos tranquilizantes, por exemplo, permite que se interrompa o da camisa de força para os casos de violência do paciente. Já os antidepressivos, amplamente utilizados hoje, começam a ser popularizados na década de 1980, quando seus efeitos colaterais são abrandados.

A partir da década de 1960, a eficácia do manicômio para a melhoria do estado mental dos internos passa a ser contestado em todo o mundo. Além de o confinamento em si ser visto como prejudicial por muitos profissionais, as condições de diversas instituições eram de total precariedade. Havia superlotação e os pacientes ficavam muito abandonados.

No Brasil, um processo semelhante começa no fim dos anos 70: a Reforma Psiquiátrica. Segundo um relatório do Ministério da Saúde, o principal agente desse processo foi o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de internação psiquiátrica.

As denúncias davam conta da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura e da hegemonia de uma rede privada, além de haver críticas ao saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico de assistência a pessoas com transtornos mentais.

Nesse contexto, a ideia da segregação perde cada vez mais força. Em 1987, surge o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), local para tratamento de distúrbios severos. “Os CAPS, quando bem distribuídos regionalmente, são adequados porque não tiram o indivíduo de sua família e comunidade”, afirma Glauco.

É, entretanto, somente a partir de 2001, com a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica, que uma série de pontos importantes neste processo fica bem definida. Uma dessas questões dá conta das diretrizes para a redução gradual de leitos em hospitais psiquiátricos e a respectiva transferência dos recursos do governo para serviços mais humanizados e integrados com a sociedade, como os CAPS.

Hoje, além de dar continuidade a esse lento processo de humanização do atendimento às pessoas com transtornos mentais, um dos desafios da Psiquiatria é não ficar limitada a seu conhecimento técnico. “Psiquiatra é um médico, que tem que entender muito bem de farmacologia, interações medicamentosas etc.”, diz Glauco. “Mas ele é um médico que cuida da psique, então, o tratamento é muito mais completo quando se leva em conta o lado subjetivo e social do paciente”, ressalta.

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