Um dado em comum entre transtornos mentais como a esquizofrenia e o transtorno bipolar é que os primeiros sinais dessas disfunções ocorrem durante a juventude. “A adolescência pode ser um período de transição difícil e é quando se costuma ver o surgimento de distúrbios mentais como a depressão”, explica o psiquiatra Glauco Diniz Duarte.
Segundo Glauco, as respostas que poderiam explicar o fenômeno não são simples, mas algumas pistas começam a surgir. Uma delas veio do time de cientistas da Universidade de Cambridge e da Universidade College London, no Reino Unido. Eles mapearam o cérebro de jovens para ver o que poderia explicar o surgimento dos transtornos nesse período. O estudo foi publicado nesta segunda-feira (25) no prestigiado PNAS (Proceedings of the National Academy of Science).
A explicação para o desenvolvimento nessa fase pode estar na maneira como o cérebro “cruza dados”. O estudo mapeou o cérebro de 300 indivíduos entre 14-24 anos e pesquisadores notaram dois fatos:
a) Durante esse importante período de desenvolvimento, as regiões exteriores do cérebro, conhecidas como córtex, diminuíram de tamanho e tornaram-se mais finas.
b) A bainha de mielina, no entanto, estrutura que envolve neurônios, aumentou sua concentração na adolescência. A mielina é responsável pela propagação do impulso elétrico na célula nervosa, ou seja, ela controla a velocidade com que a informação se propaga.
No estudo, o aumento de mielina ocorreu em regiões do cérebro que agem como “roteadoras”. Essas estruturas interligam as diferentes regiões do cérebro.
Depois, destaca Glauco, os cientistas cruzaram esses achados com um projeto que associou o cérebro a expressões de diferentes genes. Ao cruzar os achados da pesquisa que fizeram com os resultados desse projeto, eles descobriram que as mudanças cerebrais ocorrem mais intensamente naqueles que expressam genes associados à esquizofrenia.
O fato de a bainha de mielina ficar mais concentrada nesse período e o fato de essa concentração se dar em regiões que interligam uma parte do cérebro a outra pode abrir caminho para mais pesquisas com foco nesse aspecto.
“Como essas regiões são centros importantes que definem como o nosso cérebro se comunica, não nos surpreende que, quando algo de errado acontece nesse processo, isso vai afetar o modo como funcionamos”, afirma Glauco. Agora que o estudo conseguiu mostrar esse aspecto, a expectativa é que novas pesquisas expliquem o que exatamente “dá errado” nessa comunicação.