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Transtorno bipolar é grave, mas tem tratamento

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

Uma alternância entre extremidades, com um período de exaltação extrema e outro de depressão profunda. Assim pode ser definida a vida de quem possui o transtorno bipolar, também chamada na linguagem psiquiátrica como psicose maníaco-depressiva. Bem diferente de como é conhecida popularmente, a doença está longe da simples variação de humor ao longo do dia e é bem mais grave do que parece à primeira vista.
Segundo o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, a patologia é bastante séria e pode ser incapacitante para quem convive com ela. “Esses pacientes variam de um estado de diminuição de ânimo, angústia e desespero intenso para outro de elação maníaca, com euforia, mania de grandeza, irritabilidade e uma vontade exagerada de ser mais sociável, por exemplo”, define ele.

Outros sintomas da enfermidade são autoestima inflada, falta de sono – com uma média de três a quatro horas por noite –, maior eloquência, fuga de ideias, agitação psicomotora, hiperssexualidade e surtos incontidos de compras ou investimentos financeiros. Na fase depressiva, os sinais mais corriqueiros são perda de interesse e prazer em atividades de rotina, sensação de inutilidade ou culpa, diminuição de energia e ideias recorrentes de morte ou suicídio.

Glauco alerta, no entanto, que a passagem de um estado para outro depende de cada organismo. A mudança é variável e, em alguns casos, pode demorar até dez anos, tendo inclusive um período de estabilidade no meio. Cerca de 15% dos pacientes, porém, são cicladores rápidos, aqueles que mudam mais rapidamente de condição – um bipolar com mais de quatro ciclos por ano já pode ser classificado nessa categoria.

Diante do quadro, Glauco reforça a diferente entre a bipolaridade e as alterações de humor. “Você pode ter uma flutuação de humor, ser um ciclotímico, mas não ser bipolar. São dois aspectos diferentes e o transtorno é muito mais profundo, com outros sintomas. O bipolar também é confundido com a personalidade borderline, que varia de gentileza à raiva com uma facilidade imensa, mas esse é um transtorno de personalidade, não de humor”.

Diagnóstico e tratamento – Apesar dos sintomas extremos, descobrir a doença é difícil e apenas um psicólogo ou psiquiatra está capacitado para a tarefa. Isso porque, assim como outros transtornos mentais, a chamada psicose maníaco-depressiva também tem um diagnóstico complexo e baseado em uma série de critérios determinados, como tempo de duração e impacto no dia a dia, já que geralmente os sinais aparecem de maneira gradual.

“Diagnosticar uma patologia física é mais fácil, pois temos exames e uma comprovação física dela, podemos ver o órgão no qual ela está localizada. Com a questão mental é diferente”, diz Glauco, acrescentando que, quando o paciente já possui consciência de sua condição, pode contribuir com o preenchimento diário de um afetivograma, onde ele registra todas as alterações de humor que teve ao longo de um determinado período.

Quando não diagnosticado, o mal pode trazer uma série de prejuízos para quem vive com ele e, por isso, Glauco ressalta a importância de procurar ajuda profissional. “Se não tratada, a enfermidade pode prejudicar a vida da pessoa, com perdas no trabalho, na vida afetiva e na parte financeira. A família também precisa ser cuidada, já que pode ter dificuldade de lidar com isso”, diz.

O tratamento é feito por meio de terapia e medicamentos específicos – estabilizadores de humor e antipsicóticos para a fase maníaca e antidepressivos para depressão. “A oscilação de estados está ligada à oscilação de substancias no organismo. Por isso, precisamos do medicamento para fazer a estabilização. Alguns precisam dele para o resto da vida, enquanto outros podem ter melhora após algum tempo”, acrescenta Glauco.

Mesmo que o uso de remédios seja temporário, é necessário acompanhamento constante.
Preconceito – Apenas 1% da população mundial é portadora da bipolaridade e 20%, porém, apresenta transtornos de humor, sendo a ansiedade o mais comum. Apesar da baixa incidência, o tema tem ganhado destaque na mídia, o que Glauco considera negativo. “Essa discussão tem sido muito negativa e vem criando falsos conceitos. As pessoas estão sendo rotuladas, gerando um preconceito com a patologia”, conta ele.
“A questão tem sido muito debatida ultimamente, talvez por ter se tornado a doença da moda. Hoje em dia, todo mundo acha legal dizer que é bipolar. Ainda existe preconceito e desconhecimento com os transtornos mentais. Às vezes até a própria família ou o próprio paciente tem preconceito com isso ou com o fato de ter que tomar medicamentos” acrescenta Glauco.

Glauco ressalta, no entanto, que a informação é o melhor caminho. “Atualmente, porém, as informações estão mais acessíveis e qualquer um pode pesquisar até artigos científicos sobre o tema na internet”, diz. Glauco destaca ainda que o mal pode aparecer em qualquer fase da vida. “Qualquer um de nós pode ter isso. O transtorno pode surgir em qualquer idade, até mesmo na fase infantil, apesar de ser mais raro”, expõe.

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