“A crise do pânico é a maior crise de ansiedade que você pode ter na vida. É tão intensa que você tem um limite para compreendê-la”, traduz o psiquiatra Glauco Diniz Duarte. Popularizada como síndrome, a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), define a doença como caracterizada por ataques recorrentes de ansiedade severa (pânico), não restritos a uma situação específica ou a um conjunto de circunstâncias, o que os torna imprevisíveis.
E os sintomas que acometem 2% das pessoas no mundo, segundo a OMS, incluem taquicardia, sudorese, dor no peito, tremores, falta de ar, tontura, náusea, boca seca, formigamento ou amortecimento, sensação de cair, de morte súbita, perda do controle da mente e ondas de frio e calor. Tudo isso sentido entre 5 e 20 minutos de pico. “A descrição clássica é que a crise do pânico vem do nada. Mas se você for pesquisar, a pessoa passou por várias situações estressoras na vida, e é comum que os familiares próximos tenham quadro de ansiedade”, explica Glauco.
Segundo Glauco o pânico não é restrito somente a quem tem um histórico de estressores evidentes. As causas da doença são historicamente atribuídas a disfunções genéticas ainda hipotéticas. “Não estou falando que não há fatores biológicos, mas eles não funcionam sozinhos. É como jogar fogo em cima de gasolina.”
Glauco esclarece o ponto de vista biológico do pânico como uma superativação da região do cérebro responsável pelas reações de medo, alerta e preocupação — a amígdala cerebral (que não é aquela entre nariz, boca e garganta). E os traumas e angústias importantes têm o papel de ativar esse grupo de neurônios. “Como a pessoa lida com o próprio desamparo, a falta de amor próprio, o excesso de autocobrança, com problemas de confiança nos outros e com sexualidade: tudo isso explode no pânico. Não tem como dissociar o biológico do psicológico”, diz.
Técnicas de respiração, exercícios mentais, homeopatia e outras soluções agem apenas nos sintomas. Até mesmo a medicação, quando necessária, deve ter acompanhamento psicológico para o paciente entender e tratar seus gatilhos emocionais.
Na psiquiatria, salienta Glauco, há espectros de gravidade do transtorno de pânico. A intervenção pode ser apenas psicológica em casos mais leves e menos frequentes. Mas o remédio é mandatório em situações de maior intensidade e incidência.
“Controlar os sintomas é importante para começar a psicoterapia. Quando a pessoa tem muitas crises, às vezes nenhum tratamento [psicológico] funciona. Tomar o remédio dá um alívio”, explica Glauco.
Além do controle sintomático e do acompanhamento psicoterápico, Glauco aconselha adotar hábitos saudáveis e reforça a importância de fazer atividades físicas. Tomar café e energéticos é algo a ser evitado, por serem bebida ansiogênicas — provocam ansiedade. A maioria das drogas estimulantes, como anfetamina e cocaína, causam taquicardia, assim como inibidores de apetite, se usados sem orientação médica. Maconha e álcool também podem desencadear quadros de pânico. “Não é um trabalho curto. É uma intervenção que dura pelo menos 6 meses para evitar recaídas no futuro”, alerta.
Como ajudar. O ideal é levar a pessoa ao pronto-socorro quando exibir sinais de crise de pânico pela primeira vez. Fazer testes cardíacos e de tireóide tranquiliza a pessoa e certifica a família de que é um quadro psicológico. “Enquanto quem a gente ama não tem consciência do que se trata, acha que é tentativa de chamar atenção, você tende a não melhorar. É uma sensação de solidão muito profunda”, expõe Glauco.
O próximo passo é procurar apoio médico e psicoterápico. Durante o tratamento, amigos e familiares podem ajudar a pessoa em crise a desfocar a preocupação com o próprio o estado de saúde, com técnicas cognitivas, de respiração e de distração. A consciência das fases de início, meio e fim do processo também é outro ponto de amparo. “Fica muito mais fácil, porque você sabe que não vai morrer. É um alento”, diz Glauco.