A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que o transtorno afetivo bipolar (TAB) é a quinta maior questão de saúde pública; até 2020, ocupará o segundo lugar. 60% dos portadores de TAB são mal diagnosticados e tratados no início da doença, comprometendo seu aprendizado escolar, vida profissional e relações interpessoais, além de serem mais vulneráveis a certos problemas de saúde, tais como: abuso de drogas entorpecentes, alcoolismo, tabagismo e doenças sexualmente transmissíveis; além de maior número de internações, mais suicídios, acidentes e mortes violentas.
tipos
O Psiquiatria Glauco Diniz Duarte explica: “O transtorno bipolar é uma condição médica caracterizada por oscilações de humor, estado depressivo e estado maníaco (euforia), e leva a variações de sintomas emocionais e comportamentais.”
Glauco classificou o transtorno bipolar, também chamado de transtorno do humor bipolar, transtorno afetivo bipolar ou doença maníaco-depressiva, em três tipos básicos reconhecidos pela OMS, pela Associação Psiquiátrica Americana e pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), tipo I e tipo II, e ciclotimia. “O primeiro tipo é caracterizado pela presença de episódios de mania (euforia), alternados por depressão. É a gravidade da mania que define a intensidade do tipo. O tipo II é caracterizado por um estado de hipomania (estado de euforia e agitação mais leve) e depressão. E a ciclotimia, quadro mais leve e crônico, é caracterizada pela alternância de hipomania e depressão com menos intensidade.”
Segundo Glauco Diniz, há ainda outros subtipos do TAB. “O transtorno bipolar sem nenhuma especificação seria um tipo residual, no qual nenhum dos três tipos principais estariam convenientemente representados, e o espectro bipolar, que é o mais leve e atípico.” Sobre as manifestações da doença, comenta: “Os primeiros sintomas surgem na adolescência e primeiros anos da idade adulta. O quadro começa com alterações leves e gradativas, seguidas por mais episódios de depressão, hipomania e alternância de humor. Episódios mais graves são raros nesse período. 5% da população geral tem transtorno bipolar e 1% sofre de transtorno bipolar de tipo I. A depressão unipolar, não acompanhada de euforia, é a mais recorrente entre todas as doenças psicoemocionais.”
Para Glauco, ainda há muita dificuldade em se fazer um diagnóstico precoce da doença, o que retarda em pelo menos dez anos seu adequado tratamento. “Porque há um predomínio do quadro depressivo sobre o quadro de euforia, em muitos casos fica difícil diagnosticar o transtorno bipolar, que se caracteriza pela frequência e intensidade do quadro de mania (euforia, agitação).
O tipo I é mais grave, todavia mais fácil de ser diagnosticado. Os outros tipos são menos nítidos e portanto podem oferecer dificuldades para um diagnóstico precoce e correto.” Para Glauco, não existe um tipo de indivíduo que pode ser mais propenso a desenvolver a doença, todavia as questões genéticas são preponderantes. “O transtorno bipolar pode acometer qualquer pessoa, independente de região de origem, raça ou classe social. Ter histórico na família com transtorno bipolar ou depressão pode aumentar em muito as chances do indivíduo vir a desenvolver um dos quadros maníaco-depressivos.”
Quanto à influência de fatores externos, Glauco diz: “Não existem estudos conclusivos que comprovem uma relação causal direta entre alcoolismo, abuso de drogas, experiências traumáticas e o transtorno bipolar, mas estes fatores podem estar algumas vezes associados e servirem de gatilho para a eclosão de uma crise numa pessoa com alguma predisposição à doença. Porém a causa é sempre biológica.”
Estudo desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) encontrou 7,2% de adolescentes com TAB em população investigada. O mesmo estudo informou ainda que a doença dá seus primeiros sinais de alerta, mais comumente, na faixa de 15 a 19 anos de idade e que a genética é determinante: filhos de portadores de TAB têm quatro vezes mais chance de desenvolver a doença que aqueles de pais normais.
Foram sintomas encontrados nos adolescentes com TAB: pensamentos abundantes, diminuição da objetividade, fuga de ideias, pensamentos fantasiosos, de grandeza, extravagantes e bizarros, insônia, euforia, exaltação, paranoia, agressividade e hipersexualidade.
Segundo a Abrata, o TAB atinge mais de 20% da população mundial e é duas vezes mais comum em mulheres que homens. Tem seu pico entre os 20 e 40 anos de idade e vitima 16% a 18% dos seus portadores. 1% a 2% sofrem do tipo I e 5%, do tipo II.
De acordo com dados estatísticos do Ministério da Saúde (MS) publicados em 2006, Saúde Mental em Dados, a cobertura hospitalar para internamentos com problemas de saúde mental é considerada insuficiente em Goiás, 0,26, numa escala de 0,20 a 0,50, mas acima do Distrito Federal, 0,11, por exemplo; o Brasil tem média regular de 0,39.
Preocupação
O comportamento suicida entre pessoas com TAB é algo que preocupa os especialistas. O estudo desenvolvido pelo pesquisador húngaro Zoltán Rihmer, do Instituto Nacional de Psiquiatria e Neurologia de Budapeste, em 2005, sugeriu que 3% a 5% de pessoas normais tentam suicídio, contra 9% a 30% de unipolares (depressivos apenas), 10% a 50% de portadores de TAB tipo I e 18% a 61% de portadores de TAB tipo II. 15% a 19% dos portadores de um dos três tipos de transtornos chegam às vias de fato.
De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), a OMS afirmou que na década de 1990 o TAB foi a 6ª maior causa de incapacitação no mundo para indivíduos entre 15 e 44 anos de idade. O mesmo estudo disse ainda que a mortalidade é elevada entre os portadores de TAB e o suicídio, a causa mais frequente, sobretudo, entre os jovens (50% tentaram-no e 15% o cometeram de fato); 25% dos adolescentes portadores do TAB desenvolvem comportamento suicida. O risco de suicídio é o mais alto entre todas as doenças mentais, 19%.
Doenças como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares são mais recorrentes em portadores de TAB, 41% tem problemas com alcoolismo e 12% são dependentes de drogas ilícitas.
De acordo com Glauco, a novidade da super-exposição do TAB como “doença do século” é errônea, uma vez que muitas são as alusões feitas sobre quadros depressivos e eufóricos de personagens fictícios ou reais na literatura universal. Hipócrates, na Grécia antiga, por exemplo, já falava que o cérebro era o centro das emoções e que o seu bom funcionamento dependia do equilíbrio de quatro elementos: flegma, sangue, bílis amarela e bílis negra, o que definia os tipos de personalidade, seus humores e desvios.
Segundo o “Diagnóstico, Tratamento e Prevenção da Mania e Hipomania no Transtorno Bipolar”do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, mais de 10 mil autorizações de internação hospitalar por ano são devidas ao TAB, todavia, a população masculina é diagnosticada como portadora de esquizofrenia e transtornos mentais associados ao alcoolismo, o que mascara o número real de acometidos daquela enfermidade.