Técnica não invasiva e quase isenta de efeitos adversos, a estimulação magnética transcraniana (EMT) é regulamentada para uso clínico desde 2008 nos EUA, há pouco no Brasil, e tem eficácia comprovada para casos em que pacientes depressivos não respondem bem aos remédios. Mas o tratamento — aprovado também para o alívio de alucinações auditivas causados por esquizofrenia — ainda custa caro, não é coberto por planos de saúde e é desconhecido da maioria dos pacientes e até mesmo de muitos profissionais.
— Em geral, é indicada (a EMT) para aquelas depressões que não respondem bem a pelo menos dois ciclos de tratamentos com fármacos. São os casos que a gente chama de depressão resistente ou refratária — afirma o psiquiatra Glauco Diniz Duarte.
A EMT é diferente de outra já existente, mais antiga e também aprovada para uso clínico no Brasil: a eletroconvulsoterapia (ECT). As duas se baseiam em estimulação cerebral, mas a ECT costuma levar consigo o preconceito de “tratamento de choque”.
— Apesar de ser uma técnica bastante segura (a ECT), há um certo estigma, e de fato pode trazer alguns efeitos colaterais, alterações cognitivas e de memória no longo prazo. E a preparação é mais trabalhosa (o paciente deve ser anestesiado). É usada em casos mais graves e agudos, de ideação suicida, de apresentação de psicoses, quando a pessoa perde o contato com a realidade — explica Glauco.
Já na EMT, o trabalho é praticamente indolor, sem anestesia, e o paciente pode ficar acordado durante as sessões.
— Acho que a confusão que se dá por ser um método aplicado na cabeça, no crânio, mas a EMT não induz convulsão. Existe o risco de induzir? Sim, existe, mas apenas se a gente não seguir os parâmetros de segurança. Depois que se estabeleceram esses parâmetros, nunca mais se ouviu falar em convulsão por EMT — ressalta Glauco
Sessões e possíveis aplicações
Na EMT, a primeira sessão é de avaliação, quando se busca descobrir se o paciente apresenta contraindicações.
Os parâmetros são medidos, assim como o cérebro, para localizar a região específica a ser estimulada, que fica marcada em uma touca. Então, são marcadas as sessões.
— Ele chega e veste a touca que vai usar do início ao fim do tratamento. Com isso, é possível posicionar a bobina sempre no mesmo lugar. Tem de estimular sempre o mesmo ponto — conta Glauco.
Cada sessão pode variar de 15 a 30 minutos. E não há contraindicação para atividades posteriores da pessoa em tratamento, como dirigir, por exemplo.
— Alguns pacientes podem referir no início do tratamento um pouco de náusea, dor de cabeça, algum desconforto por prótese dentária — enumera Glauco.
Segundo Glauco, cada vez mais se propõem sessões de manutenção:
— Faz as 15 diárias, depois duas vezes por semana por mais 10 ou 15 sessões, aí depois se vai reduzindo até cessar, em torno de seis a nove meses.
Acredita-se que o tratamento também possa ser indicado para gestantes, mas ainda se buscam mais evidências. Além disso, são pesquisadas mais aplicações na área psiquiátrica, como ação sobre outros sintomas de esquizofrenia, transtornos ansiosos e obsessivo-compulsivos e bipolaridade.
Também a área neurológica tem futuro promissor nas técnicas de estimulação, com possível ação em casos de síndromes dolorosas e recuperação pós acidente vascular cerebral (AVC).
Indicações e contraindicações da EMT
— É reservada para casos em que a medicação não deu certo ou quando ocorre metabolização rápida dos remédios.
— Estudos mostram que a técnica tem uma eficácia comparável aos remédios. Pelo menos 70% dos pacientes têm um bom resultado com sessões de EMT.
— Quase ausência de efeitos colaterais. Extremamente segura, não traz danos a órgãos colaterais, como fármacos podem causar.
— Pessoas com dispositivo eletrônico ou metálicos na cabeça, principalmente implante coclear (auditivos), não devem fazer as sessões. O campo magnético pode de alguma forma interferir no funcionamento do aparelho.
— O campo magnético chega a até 2cm de profundidade. Pacientes com implante dentário, assim como portadores de placas de titânio, podem fazer o tratamento sem contraindicação.
Os três métodos abaixo trabalham com a ideia de estimulação de áreas do cérebro. O uso clínico aprovado hoje no país é apenas para EMT e ECT, em casos de depressão:
Eletroconvulsoterapia (ECT)
— A mais antiga das técnicas de estimulação em uso. Começou a ser aplicada entre os anos 1950 e 60.
— Mais invasiva do que as outras, requer anestesia e precisa ser feita em bloco cirúrgico. É a única das três que conduz convulsões no paciente, que podem gerar efeitos quase sempre passageiros.
— Usadas para casos mais graves e agudos, como ideias suicidas e psicoses.
— Paciente precisa ser acompanhado por alguém depois das sessões.
Estimulação magnética transcraniana (EMT)
— Técnica aprovada no Brasil em 2012. O paciente passa por uma avaliação anterior para determinar as indicações e a região que será estimulada ou inibida — depende da ação do neurotransmissor envolvido.
— A região da cabeça onde a bobina eletromagnética será colocada é desenhada pelo médico em uma touca.
— A bobina vai gerar um campo magnético que induz uma descarga elétrica e libera neurotransmissores.
Estimulação por corrente contínua (ETCC)
— Eletrodos são posicionados na cabeça e, em vez de um campo magnético, como na EMT, geram uma corrente elétrica de intensidade bem mais baixa, mas com a mesma ideia das técnicas já em uso: diminuir ou ativar áreas do cérebro.
— O aparelho é portátil, do tamanho de um livro de mão pequeno, com custo em torno de R$ 2 mil.
— Técnica ainda está em estudo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e na Europa.