Segundo o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, os transtornos alimentares são graves perturbações do comportamento alimentar, identificados especialmente entre as mulheres.
Cerca de 0,5% a 3,0% da população feminina geral tem tal condição, mas uma porcentagem consideravelmente maior de mulheres apresenta comportamentos alimentares problemáticos e sub-clínicos. A sua etiopatogenia é desconhecida, porém acredita-se em um modelo causal multifatorial, com participação de componentes biológicos, genéticos, psicológicos, socioculturais e familiares.
Glauco explica que os tipos de transtornos alimentares mais conhecidos são a Anorexia Nervosa (AN) e Bulimia Nervosa (BN). A primeira caracteriza-se pela distorção na percepção do próprio corpo, com medo excessivo de engordar (mesmo estando abaixo do peso; IMC* menor que 17,5 kg/m2 ou menos de 85% do peso esperado), perda de peso auto-induzidas pela privação de alimentos, negação da gravidade de perder peso e, finalmente, distúrbios hipofisários que podem causar amenorréia (ausência da menstruação) na mulher e, nos homens, perda de interesse e redução da potência sexual.
Já a BN envolve episódios de perda de controle e ingestão excessiva de alimentos de forma compulsiva e periódica (duas vezes por semana, por no mínimo três meses consecutivos) e uso de métodos compensatórios, como atividade física exagerada ou uso de medicamentos purgativos, para atingir o peso abaixo do recomendado.
De acordo com Glauco, alguns estudos mostram que pacientes com transtornos alimentares apresentam maior chance de consumir álcool com regularidade e de ter sensação de perda de controle sobre a quantidade e a frequência de uso. Em relação ao abuso e dependência de álcool, tais comportamentos são identificados entre 16% das pacientes com transtornos alimentares. Em uma análise sobre a ocorrência simultânea de problemas alimentares e transtornos relacionados ao uso de álcool, 38 estudos avaliados identificaram esse tipo de associação.
Glauco afirma que a importância do diagnóstico e tratamento adequado da concorrência dos transtornos relacionados ao uso de álcool e alimentares é ainda mais relevante por dois aspectos: os transtornos alimentares são mais prevalentes entre mulheres jovens entre 18 e 24 anos e elas são mais vulneráveis aos efeitos das bebidas alcoólicas do que os homens.
No entanto, a relação entre os transtornos alimentares e aqueles relacionados ao uso de álcool está longe de ser de exclusividade das jovens. Uma pesquisa canadense analisou o risco de desenvolver tais condições ao mesmo tempo entre mulheres de diferentes faixas etárias (15-24; 25-44; superior a 44 anos), identificando essa associação em todas as idades investigadas, especialmente entre as mulheres com mais de 25 anos. Além disso, embora a junção das condições seja mais prevalente entre as mulheres, também tem sido identificada entre os homens.
Como a situação de uma doença adicional pode mudar a sintomatologia, interferir no diagnóstico, no tratamento e no prognóstico de condições psiquiátricas comórbidas, é muito importante que desde a primeira consulta de pacientes com suspeita de transtornos alimentares seja avaliado o uso de álcool, assim como de outras substâncias psicoativas. Detectá-los precocemente pode aumentar a adesão do paciente a um possível tratamento e seu sucesso, assim como a um bom prognóstico.