GLAUCO DINIZ DUARTE Construtoras apostam na tendência de personalização de imóveis, entregando unidades no “osso”
Uma realidade cada vez mais comum em grandes centros urbanos como Miami e São Paulo começa, aos poucos, a chegar em BH e região metropolitana: a entrega de apartamentos sem acabamento. Sim, você leu a palavra corretamente. Nesses casos, o padrão interno comum dá lugar a unidades em que é possível personalizar o imóvel pontualmente ou até mesmo quase totalmente – caso em que o apartamento é entregue no concreto, até sem paredes. Essa tendência, no entanto, pode representar um desembolso muito maior por conta do acabamento, que encarece em muito o valor do imóvel.
Há alguns pontos a esclarecer sobre o novo modelo de negócio. Para começar, os lançamentos conhecidos como shell (concha, na tradução do inglês) ou no “osso”, como tem se popularizado em linguagem informal, atende principalmente ao mercado de alto padrão, informa Renato Michel, vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).
NA PRÁTICA
Marcos Paulo Alves de Souza, diretor da construtora PHV, empresa com 20 anos de atuação na RMBH e uma das pioneiras no filão, apresenta a ideia. Como exemplo, ele cita o lançamento do Edifício 4 Ventos, em Nova Lima. Trata-se de um imóvel de altíssimo padrão, com 750 metros de área construída, um por andar e custo a partir de R$ 8 milhões. “Lá, apenas as áreas comuns serão entregues com um modelo-padrão. Já em cada uma das unidades o cliente terá duas opções: a de fechar negócio para personalizar todo o acabamento (e nesse caso faz um projeto arquitetônico e de decoração a partir do concreto), ou optar pelos kits já prontos, com acabamento sugerido pela construtora.”
Outro ponto para avaliar a nova realidade é partir do princípio de que a alternativa não visa à economia de nenhum dos lados, ou seja, nem da construtora e nem do comprador. “A questão financeira em si não está em jogo, mas, sim, o desejo do cliente de colocar a própria personalidade naquele imóvel. De criar uma identidade única e de acordo com a necessidade particular da família na residência”, aponta.
Souza afirma que 95% dos 200 prédios já lançados pela construtora estão na região Centro-Sul de Belo Horizonte e cidades vizinhas (Nova Lima) e diz que, desde que foi proposto, o modelo shell tem feito sucesso. “Demos vazão ao desejo que partiu do próprio consumidor, quando começamos a notar que Compradores de apartamentos acima de 300 metros quadrados costumavam trocar o acabamento-padrão após a entrega das chaves.”
MERCADO
Aos poucos, analisa o executivo, a tendência de personalizar o acabamento interno de apartamentos deve chegar a outros segmentos do mercado. “Em unidades de classe média, apartamentos a partir de R$ 1,2 milhão, já é possível personalizar o imóvel pontualmente, a exemplo da troca de portas e pisos, por exemplo. Geralmente, em acordo entre comprador e construtora. Já em segmentos mais econômicos, essa possibilidade está mais distante uma vez que “é mais complicado flexibilizar e personalizar cada unidade num conjunto maior, em prédios com centenas de apartamentos, por exemplo”.
Ricardo Pitchon, corretor de imóveis e sócio da Pitchon Imóveis, afirma que o cliente de alto luxo tem aderido ao modelo de acabamento shell ou no osso sem pestanejar. Afirma ainda que a alternativa evita problemas que possam surgir entre construtora e comprador na hora de fechar as contas da troca de itens de acabamento-padrão por um personalizado no sistema crédito/débito. E reforça: “O acabamento interno representa, em média, 30% do valor de um imóvel. Mas, nesse caso, não tem a ver com economizar ou gastar. A ideia é finalizar a obra em acordo com ideias de praticidade e conforto customizadas, sob medida”.
Responsável por comercializar as duas torres já lançadas do La’Reserv, empreendimento das construtoras Patrimar e Sommattos que aposta no modelo shell (com unidades a partir de R$ 6 milhões e 70% já comercializadas), ele acredita que a customização de imóveis de alto padrão é uma tendência, um caminho sem volta. “É uma evolução do sistema”, afirma. E destaca ainda que sai na frente o empreendimento que define o modelo que será utilizado no ato da compra do imóvel. Até para que não haja obras concomitantes em vários apartamentos de um mesmo prédio após a entrega das chaves.