GLAUCO DINIZ DUARTE 97% das empresas prometem investir no país em 2019, mostra levantamento
A perspectiva de reação mais forte da atividade no próximo ano deve elevar investimentos e empregos no setor privado, aponta pesquisa da Deloitte com 846 empresas. Quase todas (97%) as companhias consultadas no levantamento “Agenda 2019”, divulgado ontem, afirmam que vão investir no ano seguinte. Contratar mais funcionários está nos planos de 47% dos entrevistados, enquanto 32% pretendem manter o quadro atual. Apenas 7% esperam demitir.
Entre os executivos que responderam à enquete, 89% estão em cargos de tomada de decisão. Somadas, as receitas das empresas chegaram a R$ 2,8 trilhões em 2017, o equivalente a 43% do Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano. A pesquisa foi realizada logo após o segundo turno da eleição presidencial, entre 29 de outubro e 5 de novembro.
As áreas mais mencionadas pelas companhias que planejam investir em 2019 são lançamentos de novos produtos e/ou serviços (60%), adoção de novas tecnologias (59%) e manutenção de iniciativas de treinamento e formação para novos funcionários (49%). Substituir ou comprar novas máquinas e equipamentos foi a sexta opção mais citada, com 30% das respostas.
Othon Almeida, sócio da Deloitte, destaca que fatia relevante dos executivos (30%) declarou que não vai captar recursos em 2019, mesmo com a expectativa quase generalizada de novos investimentos. “Isso significa que essas empresas estão capitalizadas, o que é um bom sinal”, diz.
Entre as 70% que devem fazer captação no próximo ano, as fontes a serem usadas são aporte de proprietários ou acionistas (24%), empréstimos com bancos de fomento, como o BNDES (24%), e aporte do grupo controlador (20%). Apenas dez companhias apontaram que vão lançar mão da oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) como forma de levantar recursos.
“A leitura primária destes dados é que os empresários estão olhando 2019 com perspectivas positivas”, comenta Almeida. “Toda mudança gera expectativas”, afirma o consultor sobre a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no pleito presidencial.
A iniciativa privada, no entanto, parece condicionar o quadro mais favorável para o próximo ano a medidas que o novo governo precisa tomar, observa Almeida. Nesse sentido, diz, quanto mais demorada for a solução dos temas propostos pelo empresariado, mais distantes ficam os benefícios econômicos a serem colhidos com as reformas.
O levantamento da Deloitte questionou os executivos sobre quais devem ser as prioridades da gestão de Bolsonaro. Até quatro opções poderiam ser apontadas. No “quesito leis e regulamentações”, as três medidas mais urgentes seriam a reforma tributária citada por 93% da amostra seguida de reformas da Previdência (90%) e política (80%). A revisão das leis trabalhistas e da política dos preços de derivados de petróleo é prioritária para 36% e 14% dos entrevistados, respectivamente.
Na pergunta sobre medidas de impacto na gestão pública, a maioria das empresas indicou o combate à corrupção (62%) e o ajuste fiscal nas contas públicas (61%) como temas de maior relevância. Em terceiro lugar, aparecem novas privatizações (33%).
A consultoria questionou, ainda, as companhias sobre quais pontos com efeito na atividade econômica seriam mais importantes. Segundo os executivos consultados, são eles o estímulo à geração de empregos (80%), a manutenção da inflação em nível inferior a 5% ao ano (58%) e políticas de ampliação da participação do Brasil no comércio exterior (53%).
Para 38% das empresas, o próximo governo vai solucionar as prioridades escolhidas. Menos otimistas, 56% afirmaram que os temas apontados serão priorizados apenas parcialmente.
Das 846 companhias ouvidas pela Deloitte, 37% são do segmento de bens de consumo, que engloba atividades como manufatura, comércio e agronegócio. A segunda maior parcela é de empresas de serviços diversos (28%), seguidas pelas de infraestrutura e construção (14%), TI e telecomunicações (12%) e atividades financeiras (9%).