GLAUCO DINIZ DUARTE Conheça as tendências em paisagismo e as espécies que podem estar na sua casa
Um dos principais conceitos do paisagismo é harmonizar a relação entre o homem e a natureza e não por acaso a técnica decorativa surgiu no momento em que o homem sentiu a necessidade de modificar o ambiente em que vivia, tendo em vista a beleza e o bem-estar. Com o sugestivo tema “A Casa Viva”, a 32ª edição da Casa Cor em São Paulo, em cartaz até o dia 29 de julho, no Jockey Club, não poderia dar menos destaque ao paisagismo em seus ambientes, e arquitetos e paisagistas usaram e abusaram do verde em suas criações, investindo na diversificação das espécies e mostrando que é possível cultivar inúmeras variedades – nativas ou não – em casa.
No “Jardim Sustentável”, a arquiteta e paisagista Daniela Sedo exibe toda a sua preferência pelas espécies tropicais nativas. O destaque do ambiente de 40m² é o antúrio gigante (Anthurim salvinii), espécie rara que, embora não esteja em extinção, é difícil de ser encontrada no mercado. Há também vários exemplares de justícia-rosa (Megakepasma erythrochlamys), usados como cerca viva, além de diversas espécies de filodendros e impatiens em tons de vermelho e magenta.
Eliminar os limites entre os espaços internos e externos é a proposta da “Casa Cosentino”, criada por Debora Aguiar, que leva o verde de fora para dentro. O jardim projetado pela paisagista ThalitaVitachi elegeu como protagonista o frondoso pau ferro e, sob suas copas, nascem composições que trazem leveza e aconchego para a área externa. Os canteiros que ladeiam a piscina Unlimited e a lareira externa servem como vitrine para as bromélias imperiais, filodendros e arbustos.
Na “Cozinha Matriz”, espaço da Triart Arquitetura, o paisagismo de Clariça Lima enfatizou a cor verde em diversos detalhes, como na estante que ganhou espécies resistentes como a peperômia melancia, samambaia amazonas, cissus e pendentes teteronia. O espaço interno contou também com uma jabuticabeira alta e outro elemento que auxiliou nessa composição foi a escultura do artista plástico cubano Jorge Mayet, uma árvore suspensa no centro da escada. Para a área externa foram escolhidos lírios gigantes, asplênio e filodendro angolano, plantas ideias para sombra. Clariça Lima também assina o “Co-Living”, que traz espécies vegetais tropicais com folhas largas e predominantemente verdes, como guaimbês, filodendros ondulados, fícus lyratas e fícus elástica.
Vale ressaltar que, apesar da predominância do verde nas folhagens, a paisagista buscou trazer espécies com diferentes texturas de folhas para compor e dar profundidade às floreiras. No centro do jardim ela trabalhou com vegetações em tons arroxeados, como as marantas medalhão e filodendros roxos.
No “Jardim da Tartuferia”, Bia Abreu investiu em espécies exóticas, ervas e frutas para uso dos chefs do restaurante. Além disso, a paisagista trabalhou com mendinilas e seus cachos ornamentais, as exóticas e delicadas orquídeas tutti-frutti, assim como a também exótica palmeira laca que chama a atenção pelo colorido vermelho vivo que ganha destaque emmeio à folhagem intensa. Desenhado a quatro mãos, a paisagista Thalita Vitachi se uniu ao agrônomo Armando Salvador para criar o “Jardim Deca”, inspirado nos parques urbanos de Los Angeles, Estados Unidos, e incorporam a natureza suavemente à construção, trazendo sustentabilidade e leveza sem perder a elegância. A vegetação exuberante e escultural traz vida e frescor, com destaque para a espécie brasileira carandá (Copernicia alba), palmeira imponente que é acompanhada por cactáceas e suculentas, enriquecendo o paisagismo com suas texturas e tons de verde nos canteiros adjacentes às escadas. As espécies, com baixa exigência hídrica, configuram uma facilidade para um jardim tranquilo que convida à contemplação.
Diversidade das espécies brasileiras embeleza
O “Casa Viva” reúne vários projetos de jardins. No jardim “Paisagens de Luz”, dos arquitetos e designers Luciana Pitombo e Felipe Stracci, estão reunidas diversas espécies raras nativas de vários lugares do Brasil. A Philodendron pinatifidium, por exemplo, é nativa da Amazônia e ainda pouco utilizada no paisagismo ornamental, enquanto a Xantorreia glauca é considerada uma espécie rara, frequentemente confundida com o dasilirio, que é uma espécie mais difundida no mercado.
O crepúsculo é o tema do “Jardim do Entardecer”, da designer floral Myrian Marques, que foi buscar inspiração em ninfas gregas que personificam o entardecer. Um jardim vertical revestido de gramíneas e heras — mais uma inspiração na mitologia — recebe a impressão do rosto de uma deusa, criando harmonia entre a arte e vegetação. Oliveiras e romãzeiras em vasos reforçam a atmosfera onírica que presta homenagem ao feminino. Um banco de madeira ecológica convida o visitante a sentar e apreciar a paisagem.
O “Jardim da Villa Olivo”, assinado por Daniel Nunes, é um espaço de contemplação desenvolvido a partir da oliveira centenária que abraça a arquitetura. Heterogêneo e minimalista, o projeto é tomado pelo preto e o objetivo dos tons escuros é contrastar com o verde azulado das folhas da árvore e dos canteiros de alecrins. O desafio de criar um jardim orgânico em uma área ampla de 200 m² foi cumprido pela dupla Gabriela Gaunzer e Rejane Heiden. O agave, espécie protagonista do jardim que leva o seu nome e circula os espaços de convivência e o deque, aparece em duas versões: a tradicional e em flor, com hastes altas. Uma área coberta de areia com pedras e uma pira ao centro faz referência a elementos da cultura mexicana pré-colombiana. Do outro lado, o jardim traz móveis e revestimentos em tons de rosa, cinza e preto. Todas as plantas do projeto são rústicas e de fácil manutenção, destaque para a pinanga e a echevéria rosa. O projeto do “Jardim do Refúgio”, criado por Alexandre Furcolin e a designer de interiores Marina Linhares, conta com apenas uma parede fechada e o resto todo em vidro para que o morador possa apreciar o entorno. Para conviver com as árvores que já estavam no local, como pitangueiras e araçás, foram acrescentados marantas, filodendros e calatheas, entre outras espécies. “O grande desafio é imitar a natureza e criar um paisagismo exuberante, mas que não seja impositivo”, explica Alexandre. Já em “Jardim das Casas”, o paisagista Roberto Riscala apresenta vasos com plantas comestíveis não convencionais (as chamadas Pancs), colmeias hexagonais em muros verdes, tinas de madeira com frutíferas e suculentas que se harmonizam em meio aos cobogós desenhados por Zanini de Zanine. Finalmente, um jardim para passar a tarde é a proposta de Rodrigo Oliveira para o “Jardim da Casa do Relógio”, área 330 m², que se volta para o projeto de Dado Castello Branco. “A ideia foi aproveitar ao máximo a área externa para receber, porque ‘casa viva’ é isso”, brinca Rodrigo. Há uma mesa de refeições, um sofá para relaxar e o imponente fogo de chão, que completa a atmosfera calorosa. A árvore pau-brasil é a principal espécie no jardim. Também chamam a atenção o arbusto elaeagnus ao fundo, a pitanga-anã, que atrai passarinhos, e o ornamental alecrim-australiano — estas últimas espécies pouco usadas em projetos paisagísticos nacionais.