GLAUCO DINIZ DUARTE Construção civil desacelera e feirões de imóveis tentam reduzir estoques
A construção civil não enfrenta um bom momento. Ao menos, é isso que mostram os indicadores do setor divulgados ao longo das últimas semanas.
Segundo o Secovi (Sindicato da Habitação de São Paulo), o volume de vendas de imóveis novos caiu 72,3% durante o mês de junhona maior capital do País, dado revelado dias antes da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrar que o setor enfrenta o pior nível de empregos da história.
De acordo com Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), não existe crise no setor.
Apesar disso, ela afirmar que, desde o ano passado, o ramo imobiliário passa por uma desaceleração.
— Aquele ciclo que teve o auge em 2010 e 2011 realmente está se encerrando e não se observa um reinício de modo a retomar o crescimento.
O Secovi atribui a baixa nas vendas durante o mês de junho à Copa do Mundo e ressalta que as cidades situadas no entorno da capital obtiveram o melhor mês de junho em vendas no mesmo período de cinco anos. Mesmo com o resultado, o presidente do sindicato, Claudio Bernardes, projeta para o fim do ano lançamentos em torno de 26 mil unidades e vendas de cerca de 24 mil empreendimentos.
— Apesar de todos os fatores negativos citados, vale ressaltar que o mercado tradicionalmente apresenta melhor desempenho no segundo semestre.
Ana Maria, por sua vez, indica que o cenário de fraqueza do setor deve permanecer nos próximos meses, sem perspectiva de melhoras.
Feirões
Outro fator que pode ser um reflexo do momento vivido pelas construtoras é a grande quantidade de feirões realizados durante as últimas semanas, com descontos atraentes e bônus adicionais. Para Ana Maria, os eventos envolvem estratégias de marketing para realizar as vendas, porque não é de interesse das empresas manter os estoques altos.
— Como acontece em todo mercado, há uma ação de marketing nesse sentido, que deve até se intensificar para que melhorem as vendas.
Em oposição aos feirões baseados somente nos descontos, a construtora Gafisa divulgou um anúncio no Jornal Folha de S. Paulo. Na ilustração, a empresa mostra repúdio a diversas ações praticadas pelas construtoras. “É assim que o mercado imobiliário tem-se comportado para conquistar e persuadir novos compradores”, diz a publicidade.
Para o diretor de vendas e marketing da Gafisa, Marc Wey Hofling, o objetivo de um feirão não pode estar relacionado somente com o desconto, mas sim o “bom negócio” a ser disponibilizado ao consumidor. Marc ressalta que os compradores devem tomar cuidado para não caírem em ofertas muito atraentes, porque elas podem esconder armadilhas.
— Quando se fala de um desconto de R$ 500 mil, possivelmente é uma oferta específica de uma unidade com um ticket final bem alto, superior a muitos milhões, pois não existe um desconto dessa magnitude em um produto de R$ 700 mil, por exemplo.
Consumidores
Segundo Ana Maria, o pessimismo apresentado pelas famílias está claro e a redução do volume de venda dos lançamentos está associada à incerteza que cerca a população, o que significa que “o mercado imobiliário deve se manter fraco”.
— Houve um crescimento muito grande dos preços do metro quadrado, que subiu muito acima da renda. Então, as famílias começaram a esperar um pouco para ver que movimento seguiria o mercado.
Marc diz que o momento deve ser tratado com cuidado. Ele avaliar que, por se tratar da compra da vida do consumidor, ela não pode ser realizada simplesmente por impulso.
— Em um momento de insegurança por parte do cliente, estamos adotando uma postura mais próxima, buscando incentivar que o consumidor compare antes de comprar.