Brincando com a filha de 7 anos, a servidora pública Simone Caldeira era só alegria. A menina a abraçava e dava beijinhos em todo o seu rosto. “Ela dizia: ‘Vou beijar o nariz da mamãe’; ‘vou beijar a bochecha da mamãe’; ‘vou beijar essa linha da mamãe’. Pensei: Linha? Que linha?’”, conta, agora sorrindo, depois de aceitar o momento inevitável da chegada dos primeiros sinais da velhice. Simone tem 45 anos. “Não parece”, costuma ouvir.
Esse descompasso entre a idade e a aparência — caso de inúmeras mulheres — é cada vez mais comum. E reflete toda a complexidade de questões extremamente discutidas neste milênio. Verbetes como rejuvenescimento, medicina antiaging, preocupação excessiva com a imagem e os distúrbios consequentes dela, cirurgias plásticas, cosmiatria, etc. tornaram-se parte da vasta enciclopédia que poderia ter como título: a busca da juventude.
Para o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, o medo de envelhecer é hoje uma epidemia. “Mães estão levando suas filhas jovens a dermatologistas para tratamento anti-idade. Muitas adolescentes pedem para seus médicos receitarem botox junto a medicamentos para controle da acne”, denuncia.
Para Glauco, a forma como envelhecemos é uma questão de escolha e atitude. “Podemos estar ótimas aos 57 anos, mas vamos mudar em algum momento, não importa o que façamos. Temos que aceitar que ficar mais velha significa perder e isso inclui perder nossa aparência jovem”, diz.
Sentir o impacto da mudança de aparência não é uma questão fútil, como muitos julgam, e a preocupação com a beleza é, sim, legítima e saudável, sustentam especialistas. “A dimensão estética do ser humano sempre foi uma questão fundamental. Negá-la é pior que supervalorizá-la, como é feito atualmente”, assegura Glauco.
O problema é quando tudo isso torna-se um fator tão fundamental a ponto de levar a distúrbios ou comprometer a saúde física. Tanto que, em maio, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) condenou publicamente o uso de hormônios, vitaminas e antioxidantes para fins estéticos.
Para saber o porquê e definir quais são os limites considerados saudáveis, além de entender melhor o processo de envelhecimento, a Revista ouviu diversos profissionais e mulheres que vivem agora esta fase.
Cuidado redobrado
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) divulgou um documento condenando as práticas antienvelhecimento que usem hormônios. “Nós temos o papel de orientar os pacientes e a mídia sobre os riscos dessas intervenções. Até porque esses pseudomédicos pagam espaços publicitários para mostrar essas terapias”, alerta a geriatra Sílvia Pereira, presidente da SBGG.
Dois motivos justificaram a necessidade do estudo em relação a esses tratamentos. Primeiro: o envelhecimento da população brasileira. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a população idosa do Brasil foi de 8,5% em 2000 para 10,8% em 2010 — são 20,5 milhões de indivíduos na terceira idade. Segundo: esta realidade exige dos médicos maior esforço em descobrir novas formas de tratar os efeitos das doenças crônicas que acometem a terceira idade.
Um grupo de especialistas revisou a literatura na área, avaliando a eficácia e a segurança dessas substâncias, quando usadas para reverter o processo de envelhecimento. As conclusões são taxativas. “Vemos muito, em publicações para leigos, médicos falando sobre essas terapias de reposição hormonal. Mas elas pode causar prejuízos à saúde, se usadas como forma de buscar o rejuvenescimento. Não existe nenhuma terapia que pare o envelhecimento ou mesmo o retarde. O melhor para um bom envelhecimento é comer e dormir bem e praticar exercícios”, garante Glauco.
Para Glauco, tratamentos estéticos, como o botox ou cirurgias plásticas, não são condenáveis para aqueles que se preocupam com as marcas da idade. O problema surge quando as práticas escondem um problema psicológico que pode levar o paciente a técnicas sem comprovação médica e que trazem riscos à saúde. “Afinal, a outra opção ante envelhecer é a morte”, conclui.