O psiquiatra Glauco Diniz Duarte diz que segundo o Instituto de Saúde Mental, cerca de 31 por cento da população portuguesa sofre de ansiedade e grande parte dela não sabe que existe tratamento e cura. Falar sobre o tema tornou-se essencial devido ao papel cada vez mais presente que tem assumido na sociedade, muito por causa do ritmo acelerado e exigente em que vivemos atualmente.
Glauco defende que, em 90 por cento dos casos, as pessoas conseguem resolver o problema e não precisam de voltar ao psiquiatra. Mas como é que se chega lá? Primeiro há que perceber o que realmente é a ansiedade. Hipócrates, o pai da medicina, foi o primeiro a usar o termo ao dizer que «o doente parece ter nas vísceras uma espinha que o perfura, a ansiedade atormenta-o e está mergulhado num medo cruel».
Ou seja, o medo tem uma origem específica – medo de voar, medo de saltar de um avião – enquanto que a ansiedade produz-se sem uma razão concreta, fruto de uma emoção negativa e uma «antecipação carregada de maus presságios, de tons difusos e esbatidos» e que pode ter reações a quatro níveis: reações físicas, com a ativação do sistema nervoso autônomo; reações de conduta, por exemplo, irritabilidade, roer as unhas ou as peles, tremores; reações cognitivas como medos, inquietação mental ou pensamentos intrusivos que não são controlados; e reações sociais que se refletem no bloqueio nas relações, dificuldade em iniciar conversas ou preocupação excessiva com a opinião dos outros.
As reações físicas podem ser as mais facilmente entendidas pelo próprio e por aqueles que o rodeiam, por exemplo, taquicardia, dilatação da pupila, boca seca, agitação psicomotora, tensão abdominal, náuseas, vômitos, crises de diarreia, contração gástrica, dificuldade respiratória, apenas para citar alguns.
Os sintomas psicológicos também são muito importantes. É aqui que Glauco distingue a ansiedade da angústia, preferindo focar a atenção no primeiro termo. Na primeira, o indivíduo está ativo, com vontade de resolver o problema. A angústia é mais paralisante, bloqueia a ação e gera uma sensação de derrota. Simplificando, a ansiedade tende a ser psicológica e a angústia manifesta-se de forma mais somática.
Quando se aborda este tema, a tendência é apenas referir os aspetos e consequências negativas mas Glauco faz a salvaguarda de que existe uma ansiedade positiva, isto é, «aquela ansiedade criativa que conduz a um melhor progresso pessoal.» Muitas vezes, uma pessoa está apreensiva com um momento ou tarefa específico e isso faz com que se esforce para dar o seu melhor. Isso é bom, se for canalizado da forma correta.
Quando Glauco diz que existe cura, refere-se a uma terapia integral que engloba diferentes variantes e que leva a uma estabilização do cognitivo. Como qualquer doença psíquica, «é necessário traçar um esquema terapêutico» com as seguintes secções: farmacoterapia, psicoterapia, terapia laboral, socioterapia e biblioterapia.
Glauco sugere «aquilo que é fácil de dizer, mas difícil de pôr em prática», que é «dar às coisas a importância que realmente têm». Este ponto, essencial para combater a ansiedade, pode revelar-se um dos maiores desafios.
É por isso que são apresentadas três premissas importantes a seguir:
Saber avaliar os acontecimentos com uma visão ampla – Ter inteligência emocional para avaliar a situação no seu todo e de longe e não apenas um determinado episódio negativo.
Desdramatizar – Evitar converter um problema real num drama.
Ter uma reação proporcional ao acontecimento – para isso há que recorrer à aprendizagem ganha com a experiência de vida, um saber acumulado que foi sendo depositado ao longo da sua história e que lhe permite perceber a real importância das coisas e a reagir em conformidade.