De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, um recente estudo publicado por uma importante revista médica, “The Lancet”, aponta que a depressão é um dos principais distúrbios mentais da infância. Estima-se que 2,8% das crianças de 6 a 12 anos, nos países desenvolvidos, podem apresentar sinais de depressão grave. Entre os adolescentes esta porcentagem é um pouco maior: cerca de 5,6%.
É um assunto que merece toda a atenção nos acelerados, corridos e enlouquecidos dias de hoje, uma vez que o diagnóstico de depressão em crianças não é tão evidente como nos adultos. É sutil e se manifesta com sintomas muito particulares.
Segundo Glauco, a depressão pode ter causas genéticas e a vida agitada, exigente e cheia de riscos e de “ medos” dos dias atuais pode ser um gatilho para que os sintomas aflorem mais cedo. A observação atenta do comportamento das crianças é a dica mais importante para o diagnóstico.
Diferentemente dos adultos que reportam o sentimento de tristeza, desejo de isolamento e falta de ânimo e de vontade para executar as tarefas mais cotidianas e simples, as crianças nem sempre conseguem expressar claramente sua depressão.
Qualquer mudança de comportamento, de hábitos, de rotina deve chamar a atenção. Os sintomas, portanto, podem ser pouco específicos como, por exemplo, preguiça súbita de ir para a escola, baixo rendimento escolar, escolha por brincadeiras mais solitárias e menos agitadas, “medos” que aparecem do nada, dificuldade para dormir sozinho, relato de pesadelos, ansiedade da separação ou sintomas semelhantes que fazem as crianças, em uma festa infantil, por exemplo, procurarem mais a companhia dos pais ou adultos cuidadores do que a de outras crianças.
Além disso, destaca Glauco, as crianças depressivas também podem apresentar um comportamento de retração ante qualquer atividade mais desafiadora, recusa da alimentação ou, o que é extremamente comum, a somatização em dores recorrentes de cabeça, das pernas ou principalmente de barriga, sem que haja nenhuma explicação física para tal. Estes sintomas, em boa parte das vezes, é que levam pais a marcar uma consulta com o pediatra.
Importante saber que nem sempre os sinais de depressão se associam a sentimentos de tristeza e isolamento. Adolescentes, por exemplo, podem-se mostrar extremamente agressivos, rebeldes, desafiadores ou irritados com tudo e com todos.
O diagnóstico precoce é essencial pois permite que se inicie o tratamento. Para tanto, não há exame laboratorial ou de imagem específicos. A observação atenta da criança e de suas atitudes é que deve chamar a atenção de pais e cuidadores.
Glauco diz que o estudo do “The Lancet” também levantou uma importante questão: poucos são os medicamentos antidepressivos que apresentaram resultados terapeuticamente eficazes em crianças e adolescentes. Apenas um deles, a fluoxetina, demonstrou resposta satisfatória. A abordagem terapêutica psicológica ou relacional mostrou resultados significativos muito mais relevantes.
Observar atentamente o comportamento dos pequenos é também uma forma de garantir seu futuro com mais paz, tranquilidade e alegria.