Engana-se quem diz que o suicídio, ato final da pessoa cujo espírito está enfraquecido, é consequência exclusiva da maléfica depressão. O fato vai além da doença, está relacionado aos transtornos mentais, que prejudicam o progresso da vida pessoal, levando ao limite máximo e, por fim, o suicídio. No contraponto da coisa, existe tratamento e prevenção, por esta razão, lançou-se a campanha ‘Setembro Amarelo’, destinada às ações de prevenção ao suicídio.
De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, um grande mito existente na sociedade com relação ao suicídio diz respeito, exatamente, ao que faz a pessoa cometer o ato. “As pessoas pensam que só a depressão causa o suicídio, mas não, se você tem um transtorno que prejudica a sua vida isso também pode levar ao suicídio”, explica. Segundo ele, são transtornos mentais: o transtorno bipolar, que é a mania somada à depressão; transtornos relacionados ao álcool e as drogas; a esquizofrenia, que é quando as alucinações estão muito fortes; e transtornos de personalidade, como ansiedade, pânico e fobia.
Glauco comenta que as políticas públicas para prevenção ao suicídio estão melhorando no país, muito embora ainda faltem avanços importantes para diminuir o número das ocorrências. O último senso do Ministério da Saúde aponta que 800 mil pessoas cometem suicídio no Brasil anualmente, apenas em 2014, ano do último levantamento, 10.600 casos foram registrados no país. Para Glauco, coisas simples poderiam ser adotadas para desestimular o ato. “Os viadutos, por exemplo, poderiam ter barreiras de proteção ou, ao menos, um telefone dizendo que tem serviços que podem ajudar a pessoa. São coisas pequenas, mas que fazem a diferença”, afirmou.
Depressão: um caminho para o suicídio
De todos os transtornos e males, a depressão é o mais grave, no entanto e assim como qualquer outra doença, também tem tratamento adequado. Glauco explica que a depressão é um conjunto de fatores chamados ‘biopsicossocial’. São fatores biológicos do próprio corpo, do temperamento da personalidade da pessoa e fatores sociais, que diz respeito à condição em que a pessoa está vivendo no momento. “A junção destes fatores pode-se chegar à depressão. Ter perdido o emprego é uma questão social; ser uma pessoa mais extrovertida, uma questão de personalidade; e biológico, quando a pessoa já nasceu com algum problema”.
Ele explica que a depressão vem das mudanças de comportamentos, quando a pessoa começa a desistir de coisas que antes tinha prazer. “Uma pessoa que gostava de pintar e, de repente, passa a ver que isto não tem sentido mais, passa a não ter mais energia para fazer aquilo. É preciso alertar a família, os amigos, o companheiro, dizer que alguma coisa está errada e promover o que ela tem de bom em sua vida. Quando a pessoa está em depressão, ela tem o pensamento dicotômico, 8 ou 80, não vê que tem outras opções. Quando está no principio da depressão, e por isso existe a prevenção, a gente influência para que a família fique em volta, não deixe a pessoa sozinha, ajude ela a achar um novo significado de vida”.
Glauco ressalta que é importante a pessoa com depressão aceitar que está sofrendo, compreender o que é a doença e procurar por ajuda, seja de algum amigo, parente ou profissional. “O foco principal é que a pessoa se conheça, que conheça como ela é e não o que a sociedade impõe que ela seja.
A depressão, quando não tratada, pode sim levar ao suicídio. Glauco reforça que é muito importante o apoio dos familiares e amigos no processo de recuperação da pessoa em depressão. “Quanto mais você escuta a pessoa falar, e vira os olhos para isso, é pior. A pessoa não quer matar a vida dela, mas sim eliminar a dor que está sentindo. O Setembro Amarelo vem exatamente para dizer isso, que quando a pessoa está tendo uma tentativa de suicídio, ela está, na verdade, pedindo ajuda”.