GLAUCO DINIZ DUARTE Materiais inovadores: da mineração a construção civil
A construção civil e a mineração são umas das principais causadoras de impactos ao meio ambiente. Uma forma de solucionar estes prejuízos é um desenvolvimento sustentável.
Ser sustentável envolve projetos eficientes, redução da poluição, eficiência energética, aproveitamento de água, preocupação com o meio onde se está inserido, reaproveitamento e novas utilidades para materiais, resíduos, rejeitos e produtos químicos dentre outras perspectivas.
Minas Gerais é um grande polo da mineração no país e produz altas quantidades de rejeitos de minério de ferro, que são armazenados majoritariamente em barragens de alteamento a montante como as da empresa Vale. Esta forma de armazenamento produz riscos humanos e ambientais com impactos e graves consequências. Como pudemos acompanhar nos casos no Distrito de Bento Rodrigues na cidade de Mariana há 3 anos atrás e mais recentemente nos primeiros dias do ano de 2019 em Brumadinho.
Uma maneira de solucionar e proporcionar mais segurança ao lidar com os resíduos da mineração é tornando-o útil em outras áreas. Utilizar esses rejeitos como matérias-primas alternativas, é uma das opções mais viáveis sob o ponto de vista de um desenvolvimento sustentável.
A indústria da construção civil que é uma das maiores consumidoras de recursos naturais como água, argila, areia e agregados, além do cimento e do aço cuja produção, ao longo de suas várias etapas, tende a ser agressiva sob o ponto de vista ambiental, não pode se furtar a repensar metodologias e processos. Embora muitos associem esta reavaliação a um aumento de custos, a verdade é que as oportunidades para inovações tecnológicas que impliquem em desenvolvimento econômico e social, inclusive com grandes benefícios pecuniários, são muitas e significativas.
O reaproveitamento dos resíduos do setor minerário, se bem administrados, pode reduzir custos e trazer soluções ambientalmente corretas e economicamente viáveis para a construção civil, além de contribuir para a minimização dos impactos diretos ao meio ambiente decorrentes da extração da matéria-prima..
Esses resíduos podem potencialmente ser utilizados na infraestrutura rodoviária, em argamassas de revestimento e assentamento, em fabricação de blocos de concreto, tijolos de cerâmica, dentre outras possibilidades. Uma ótima opção para o uso dos resíduos minerários está na fabricação de tijolos. O rejeito da barragem de minério de ferro é principalmente composto de ferro, sílica e alumínio, assim como os materiais tradicionais de cerâmicas vermelhas (observadas as quantidades).
Com uma resistência maior que a de tijolo comum, o tijolo cerâmico com rejeito testado no interior de Minas Gerais, com uma proporção de 25% rejeito no lugar da argila apresentou bom desempenho, de forma que a parte ferrosa do de seu material não prejudicasse o produto.
Atualmente no Brasil 90% das alvenarias e coberturas são feitos com cerâmica vermelha. São consumidas 4.000.000.000 de toneladas/mês de blocos/tijolos cerâmicos, ou seja, se o rejeito passa a ser adotado como composto do tijolo, torna-se possível uma diminuição significativa mensal e até mesmo anual do resíduo de mineração. Em outras palavras, como visto ao longo desta breve reflexão, havendo interesse e adequada mobilização da sociedade, a reutilização de resíduos não só está alinhada com os valores e as necessidades de um desenvolvimento sustentável como é absolutamente compatível co aprimoramentos na construção civil a fim de tornar esse ramo mais sustentável econômico, social e ambientalmente.