GLAUCO DINIZ DUARTE Crédito imobiliário, inovação e tendências para o setor pautam debates do Enic
Em todo o mundo, a construção civil movimenta US$ 10 trilhões – algo em torno de 13% do PIB global. Até 2025, estima-se que essas cifras se elevem para US$ 14 trilhões. Em termos de crescimento anual, nas últimas duas décadas o segmento aumentou em média 1% ao ano – número bem abaixo da economia como um todo (2,8%) e do setor industrial (3,6%).
Para Kevin Nobels, da consultoria McKinsey & Company, que palestrou no painel de abertura desta quinta-feira do 90º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic) e apresentou os dados, a construção civil tem potencial para acelerar seu ritmo de crescimento. Para isso, o executivo afirma que o setor precisa apostar em frentes de tendências de inovação. “Eu destacaria pesquisas e localização geográfica, implementação disseminada do BIM (Building Information Moduling), internet das coisas, mobilidade, colaboração digital, uso inteligente dos dados e novos designs de produtos”, disse.
Alexandre Frankel – coordenador do grupo de Novos Empreendedores do Secovi-SP e CEO da Vitacon, empresa reconhecida por introduzir conceitos inovadores no mercado imobiliário – apontou como aplicou em seus empreendimentos diversas tendências em linha com um novo estilo de vida.
Produto mais compacto (a Vitacon constrói apartamentos a partir de 10 m²), localização próxima de onde as pessoas trabalham (viabilizando uma cidade em que pessoas fiquem menos tempo no trânsito), design que proporcione conforto ao morador de unidades menores, soluções de serviços aos moradores (fortemente ancorado na cultura do compartilhamento – caso de carros compartilhados, coworking, ferramentas etc.), visão de um empreendimento como plataforma tecnológica (instrumentos de big data, por exemplo, leem quando a pessoa está ou não em casa para enviar serviço de limpeza ao apartamento; tecnologia embarcada) e filosofia de que o novo consumidor do mercado não quer ter um imóvel, mas sim usa-lo, são algumas de suas premissas.
“Estamos vendo, também, de fazer apartamentos na nuvem. As pessoas têm diversas fases de vida. Estudam, trabalham, casam, vão morar fora [do País] e depois voltam… E o imóvel tem de acompanhar essas mudanças”, ressaltou o coordenador do NE. Com esse modelo de moradia, a pessoa pagaria para direito a usar um imóvel, mas sem necessariamente ficar preso a uma unidade.
Frankel, que também palestrou em painel da Comissão da Indústria Imobiliária, falou sobre sua aposta no mercado de locação através da plataforma VitaStay. “Hoje já fazemos cerca de seis mil diárias por mês, o que equivale a alguns hotéis da cidade de São Paulo. Muitas pessoas hoje preferem locar do que comprar. Não faz mais sentido para eles imobilizar dinheiro em u ativo”, contou. O empresário comentou ainda o potencial do setor para comportar operações de equity e de fontes alternativas de arrecadação de recursos – como via crowdfunding.
Funding – No período da tarde, a Comissão da Indústria Imobiliária, presidida por Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP, além de falar de tendências e novos produtos, também dedicou painel aos recursos para financiamento imobiliário. Segundo a consultora Claudia Eloy, da Magalhães & Eloy Consultoria e Assessoria, o SFH conta hoje com R$ 1.06 trilhão de saldo (R$ 497,7 bilhões do FGTS e R$ 563, 7 bilhões do SBPE), enquanto o SFI possui R$ 257 bilhões (R$ 76,3 bilhões de CRI e R$ 183,3 bilhões de LCI). “A taxa de captação abaixo do mercado ajuda na concessão de crédito com juros baratos”, disse, mostrando a curva de inclusão de pessoas no financiamento de imóveis . “Quanto menores os juros, mais pessoas tomam crédito. Não adianta você ter um prazo de pagamento maior se a taxa não viabiliza o acesso ao crédito”, disse.
A consultora ressaltou a importância histórica do FGTS para a aquisição do imóvel. “Se começarem a flexibilizar demais os saques do Fundo, os recursos para habitação podem ficar comprometidos”, alertou. Segundo ela, o FGTS teve geração líquida negativa de caixa em 2016, com tendência de piora em 2017 (balanço ainda não divulgado). Houve, ainda, queda dos ativos totais de 4,3% entre 2016 e 2017. “Fora isso, crescem as pressões sobre o lucro”, frisou.
Gilberto de Abreu, presidente da Abecip, lembrou que os recursos da caderneta de poupança são finitos. “E a LIG não será panaceia pro crédito. Mas ela precisa estar preparada para um novo momento do cenário, em que certamente será demandada”, emendou.
Comentou que, em recente viagem ao exterior, dialogou com diversos fundos que potencialmente poderiam investir no Brasil e irrigar os sistemas de funding habitacional. “Hoje, na Europa, esses fundos ganham 2% depois de vinte anos. Está sobrando dinheiro lá para apostar aqui. Mas a primeira pergunta que nos fazem é se temos investment grade”, disse. Diante da resposta negativa, de acordo com Abreu, o diálogo nem sequer avança.
Flavio Amary, presidente do Secovi-SP, salientou que a proporção de 10% do crédito imobiliário brasileiro em relação ao PIB ainda é muito baixa. “Nosso potencial de mercado é muito acima disso”, apontou. “Para atender a demanda habitacional do País, teremos de produzir 1,5 milhão de casas por ano até 2025. Fora isso, ainda temos de suprir as necessidades de construção de hotéis, galpões logísticos, imóveis comerciais…”, sustentou o dirigente da entidade.
Amary também defendeu mais segurança jurídica e a aprovação do Cadastro Positivo como elementos para arrefecer o spread bancário e o juro estrutural do País. Como forma de combater o déficit habitacional brasileiro, lembrou do LAR (Locação Acessível Residencial), proposta do Secovi-SP de aluguel de imóveis para famílias de baixa renda. “A locação pode, sim, ser alternativa para proporcionar moradia para quem precisa.”