De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, a síndrome de Munchausen, uma forma crônica e grave do transtorno factício, consiste na produção repetitiva de sintomas físicos forjados sem incentivo externo; a motivação para esse comportamento é assumir o papel de doente. Os sintomas costumam ser agudos, dramáticos e convincentes e são acompanhados por tendência de mudança de um médico ou hospital para outro, a fim de o paciente se tratar. A causa exata é desconhecida, embora estresse e um transtorno de personalidade grave, com mais frequência, transtorno de personalidade borderline, quase sempre estejam implicados.
Glauco diz que os pacientes com Munchausen podem simular muitos sintomas ou condições físicas (p. ex., IAM, hematêmese, hemoptise, diarreia, febre de origem desconhecida). A parede abdominal do paciente pode estar cruzada por cicatrizes ou um dedo do pé ou da mão pode ter sido amputado. Muitas vezes, febres são decorrentes de injeções autoaplicadas com bactérias; Escherichia coli é frequentemente o microrganismo infectante. Esses pacientes inicialmente e, algumas vezes, cronicamente se tornam responsabilidade de clínicas médicas e cirúrgicas. Apesar disso, o transtorno é um problema mental, é mais complexo que a simples simulação desonesta de sintomas, estando associado às graves dificuldades emocionais.
Os pacientes podem ter características de personalidade histriônica ou borderline proeminentes e, em geral, são inteligentes e desembaraçados. Eles sabem como simular doenças e são sofisticados no que concerne às práticas médicas. Eles se diferenciam dos simuladores, pois ainda que suas fraudes e simulações sejam conscientes e volitivas, seu comportamento não é motivado por incentivo externo, como um ganho econômico. O ganho, além da atenção médica por seu sofrimento, não é claro; suas motivações e a busca por atenção são largamente inconscientes e obscuras.
Pode haver história precoce de abuso emocional e físico. Os pacientes podem também ter vivido uma doença grave na infância ou ter um familiar seriamente doente. Os pacientes parecem ter problemas com sua própria identidade, assim como relacionamentos instáveis. A doença forjada pode ser uma maneira de aumentar ou proteger a autoestima, colocando a responsabilidade das falhas na doença, estando associado aos médicos e aos centros médicos de prestígio e parecendo única, heroica ou medicamente reconhecido e sofisticado.
Diagnóstico
Segundo Glauco, baseia-se na história e no exame, incluindo os testes necessários para excluir distúrbios físicos. Formas menos graves do transtorno factício podem também envolver a produção de sintomas físicos ou mentais (p. ex., depressão, alucinações, delírios, sintomas de estresse pós-traumático) com o objetivo aparente de assumir o papel de doente. Essas formas não são consideradas Munchausen, que é mais grave e crônico, com internações recorrentes, peregrinações, “pseudologia fantástica” (mentindo de uma forma que é intrigante para o ouvinte).
Tratamento
• Não há tratamentos efetivos claros
O tratamento é habitualmente desafiador e não existem tratamentos claramente eficazes. Pacientes podem ter alívio inicial por ter suas demandas por tratamento atendidas, mas seus sintomas normalmente se intensificam, ultrapassando o que os médicos estão dispostos ou capacitados a fazer. Confrontação ou recusa em atender as demandas de tratamento muitas vezes resulta em reações de raiva e os pacientes geralmente mudam para outro médico ou hospital (o que é chamado peregrinação). Reconhecer o transtorno e solicitar precocemente consulta com psiquiatra ou psicólogo é importante, podendo evitar, assim, testes invasivos, procedimentos cirúrgicos e uso excessivo ou desnecessário de drogas.
Abordagem não agressiva, não punitiva ou não confrontadora deve ser usada para apresentar o diagnóstico de pacientes com Munchausen ou outras formas de transtornos factícios. Para evitar sugerir culpa ou reprovação, o médico pode apresentar o diagnóstico como um pedido de ajuda. Alternativamente, alguns especialistas recomendam fornecer tratamento de saúde mental sem exigir que os pacientes admitam seu papel em causar sua doença. Em qualquer caso, é útil combinar que médico e paciente podem cooperativamente resolver o problema.
SÍNDROME DE MUNCHAUSEN POR PROCURAÇÃO
É uma variação na qual cuidadores (geralmente os pais) produzem intencionalmente ou forjam sintomas ou sinais físicos ou mentais em uma pessoa que esteja sob seus cuidados (quase sempre uma criança).
O cuidador falsifica a história e pode lesar a criança com drogas ou outros agentes ou mesmo adicionar sangue ou agentes bacterianos a amostras de urina para simular doença. O cuidador procura cuidados médicos para a criança e parece ser profundamente preocupado e protetor. A criança normalmente tem história de hospitalizações frequentes, muitas vezes por uma variedade de sintomas inespecíficos, mas sem diagnóstico preciso. As crianças vitimizadas podem estar seriamente doentes e, algumas vezes, morrem.