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Comportamento suicida em crianças e adolescentes

Glauco Diniz Duarte

De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, as taxas de suicídio entre os jovens declinaram nos últimos anos após mais de uma década de aumento constante. Não são muito claras as razões destas flutuações.

Admite-se que o uso mais liberal de antidepressivos possa ser em parte a razão desta estatística. A hipótese de alguns especialistas é de que os antidepressivos têm um efeito paradoxal, fazendo com que as crianças e adolescentes mais verbalizem sentimentos suicidas, mas menos provavelmente cometam suicídio. Contudo, o suicídio está entre a segunda ou a terceira causa de morte entre os 15 e os 19 anos e permanece como uma considerável preocupação de saúde pública.

Etiologia
Os fatores de risco variam com a idade. Fatores predisponentes incluem
• Depressão (implicando mais da metade dos comportamentos suicidas e adolescentes)
• História de suicídio na família ou amigos próximos
• Morte recente na família
• Uso de drogas
• Distúrbio bipolar
• Psicose
• Distúrbio de conduta, caracterizado por falta de controle dos impulsos de agressividade contra os outros, possivelmente redirecionados contra si mesmo ( Distúrbios de conduta)

Os fatores desencadeantes mais imediatos podem incluir
• Perda da autoestima (resultante de brigas familiares, episódios de disciplina humilhantes, gravidez, fracasso escolar)
• Perda do namorado ou namorada
• Afastamento de alguém próximo à família (p. ex., escola, vizinhança, amizades), por mudança de localidade

Segundo Glauco, outros fatores ainda apontam falta de estrutura e limites, levando a sentimentos de derrota e falta de rumo, ou intensa pressão dos pais, acompanhados de sentimentos de falta de expectativa. Uma frequente motivação para a tentativa de suicídio é o esforço para manipular ou punir outros, com a fantasia “Você vai se arrepender com a minha morte”.

Um aumento na taxa de suicídios é verificado após o suicídio de uma personalidade pública (p. ex., um astro do rock) ou entre uma população que se autoidentifica (p. ex., alojamentos de colégios e universidades), o que mostra a força da sugestão. A intervenção de apoio precoce da comunidade pode ajudar os jovens sob tais circunstâncias.

Tratamento
• Possibilidade de hospitalização
• Possibilidade de medicação para tratar doenças básicas
• Encaminhamento ao psiquiatra

Glauco explica que cada tentativa de suicídio é de grande importância, obrigando a rápidas e apropriadas intervenções. Uma vez removida a ameaça imediata à vida, deve-se pensar na necessidade de hospitalização. Isto depende do equilíbrio entre o grau de risco e a capacidade de apoio da família. A hospitalização, em enfermaria pediátrica aberta com enfermagem especializada, é a forma mais certa de proteção a curto prazo e, geralmente, está indicada se houver suspeita de depressão, psicose, ou ambas.

A letalidade da tentativa de suicídio pode ser avaliada baseada em:
• Grau de evidências previstas (p. ex., escrita com nota suicida)
• Passos tomados para impedir que se descubra
• Método usado (p. ex., armas de fogo são mais letais do que as pílulas)
• Grau e circunstâncias da autoagressão
• Fatores ou circunstâncias desencadeantes imediatos envolvendo a tentativa

A terapia medicamentosa pode estar indicada para qualquer distúrbio de base (p. ex., depressão, distúrbio bipolar ou de conduta, psicose), mas não pode impedir o suicídio. De fato, o uso de antidepressivos pode aumentar o risco de suicídio em alguns adolescentes. Os medicamentos devem ser cuidadosamente monitorados e mantidos em doses subletais.

O encaminhamento ao psiquiatra é necessário para prescrição de medicamentos e psicoterapia. A conduta psiquiátrica é mais bem-sucedida se houver continuidade com a atenção dos responsáveis.
É essencial a reconstrução moral e o restabelecimento do equilíbrio emocional da família. Uma resposta negativa de falta de apoio por parte dos pais é um sério obstáculo e sugere a necessidade de uma intervenção mais radical como morar fora de casa. Se a família demostrar amor e interesse, um resultado positivo torna-se bastante provável.

Prevenção
Glauco diz que incidentes suicidas são frequentemente precedidos de alterações do comportamento (p. ex., desânimo, autoestima baixa, alterações do sono e apetite, incapacidade de concentrar-se, negligência escolar, queixas somáticas e preocupação suicida) que frequentemente levam a criança ou o adolescente à consulta médica. Colocações como “Gostaria de nunca ter nascido” ou “Gostaria de dormir e nunca mais acordar” devem ser levadas a sério como uma possível indicação suicida. A ameaça ou a tentativa de suicídio representam uma importante comunicação sobre a intensidade do desespero experimentado.

O reconhecimento precoce dos fatores de risco mencionados pode ajudar na prevenção da tentativa suicida. Considera-se apropriada uma intervenção rigorosa em resposta a estas insinuações, ou quando se confronta com ameaças ou tentativas suicidas ou a adoção de comportamento de alto risco. O adolescente deve ser questionado diretamente sobre sua infelicidade ou sentimentos autodestrutivos, o que pode diminuir estes riscos. O médico não deve fornecer segurança infundada que pode arruinar sua credibilidade e diminuir a autoestima do paciente.

A eficácia dos programas de prevenção suicida está sendo avaliada. Os programas mais eficientes são os que se propõem a assegurar que a criança tenha um ambiente e grupo social de apoio zeloso, caracterizado pelo respeito às diferenças individuais, raciais e culturais.

COMPORTAMENTO DE AUTOFLAGELAÇÃO
Comportamentos de autoflagelação que às vezes são confundidos com intenções suicidas, incluem escoriações superficiais, cortes e queimaduras da pele com cigarros ou escova elétrica para ondular o cabelo, e tatuagens com caneta esferográfica.

Em algumas comunidades, estes comportamentos subitamente se espalham pelo colégio como moda e a seguir diminuem gradualmente com o tempo.

Em muitos exemplos, estes comportamentos não são indicadores suicidas, mas são na verdade uma tentativa do adolescente de estabelecer autonomia, identificar-se com seus pares no grupo, ou provocação para ganhar a atenção dos pais. Mesmo que estes comportamentos não sejam a expressão de um suicídio, eles são sérios e requerem intervenção. Este comportamento sugere que o adolescente está em grande confusão, às vezes, associado ao uso de drogas.

Toda autoflagelação deve ser avaliada por médico experiente no atendimento ao adolescente perturbado, para avaliar se o suicídio é o problema e para diagnosticar o distúrbio de base que está levando ao comportamento de autoflagelação.

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