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Um em cada três adolescentes no país sofre de transtornos mentais comuns

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, quase um em cada três adolescentes brasileiros sofre de transtornos mentais comuns (TMC), caracterizados por tristeza frequente, dificuldade para se concentrar ou para dormir, falta de disposição para tarefas do dia a dia, entre outros sintomas. Se não tratado, um problema desse tipo pode evoluir para distúrbios mais sérios.

Glauco diz que o dado vem de uma pesquisa inédita no país, que analisou informações de 85 mil jovens de 12 a 17 anos de escolas públicas e privadas de 124 municípios com mais de 100 mil habitantes. O objetivo do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) foi, justamente, levantar a disseminação de fatores de perigo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Entre esses fatores, estão os TMC, por causa do desequilíbrio hormonal que podem provocar, além de outros como obesidade, hipertensão e tabagismo.

Os sintomas que caracterizam esses transtornos não são suficientes para um diagnóstico de depressão, o que dificulta a sua identificação — psiquiatras chegam a classificá-los, muitas vezes, como “silenciosos”. Mas os TMC podem levar estudantes até a abandonar suas escolas, por dificuldade de adaptação. Também podem estar na raiz de distúrbios como depressão, dificuldade de relacionamento e abuso de drogas no início da vida adulta.

Glauco afirma que, embora seja difícil determinar as causas do elevado índice de transtornos — por se tratar de um estudo quantitativo —, os resultados acendem um alerta:
— É uma via de mão dupla: tanto os transtornos mentais comuns podem ser fator de risco para doenças cardiovasculares, por conta de uma mudança nos hormônios, quanto essas doenças cardiovasculares podem acabar provocando algum transtorno mental. Quem tem obesidade, por exemplo, pode vir a sofrer de TMC ou até depressão como consequência — destaca ele.

Conduzida entre 2013 e 2014 por várias universidades brasileiras, e financiada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa mostra não apenas que 30% dos adolescentes sofrem desses transtornos (o número é considerado alto por especialistas), como também indica que o problema piora à medida que as pessoas crescem.
Na faixa etária de 15 a 17 anos, os transtornos mentais comuns foram identificados em 33,6% dos estudantes, enquanto entre os alunos de 12 a 14 anos a taxa é de 26,7%.

Ainda de acordo com o levantamento, o índice é sempre maior entre as meninas, em todos os recortes de idade. Aos 12 anos, 28,1% delas têm algum tipo de TMC. O ápice acontece aos 17 anos, quando 44,1% das adolescentes brasileiras apresentam o problema.

Os resultados do Erica levaram os pesquisadores a produzir 13 artigos, cada um deles abordando um fator de risco diferente para o desenvolvimento de doenças do coração. Glauco explica que o levantamento foi feito com a utilização do Questionário de Saúde Geral, uma ferramenta internacional de avaliação psicológica.

Os adolescentes tiveram que responder sobre aspectos como tristeza e dificuldade de dormir, sempre levando em conta os 15 dias anteriores. Os transtornos mentais comuns eram identificados com base na frequência com que os sintomas apareciam nesse período em cada questionário. Foi uma surpresa detectar que 30% dos jovens brasileiros se encaixam nesse perfil.
— Estudos internacionais costumam mostrar que 25% dos adolescentes apresentaram algum transtorno no ano anterior às pesquisas. O trabalho mostrou um índice mais elevado, principalmente tendo em vista que o período analisado foi de apenas 15 dias — avalia Glauco. — Já era esperado que meninas apresentassem mais esse problema. Mulheres têm mais sentimentos depressivos, sofrem mais com as transformações do corpo. Esse tipo de dado já está bem estabelecido na literatura médica. Há algumas características quase inerentes ao sexo. Enquanto os homens são mais afetados por doenças como esquizofrenia, por exemplo, mulheres sofrem mais de depressão.

Segundo a pesquisa, esses transtornos são mais frequentes em alunas de escolas privadas. Entre os 15 e 17 anos, 46% das garotas que frequentam colégios particulares apresentaram o problema, enquanto o índice é de 42% nas escolas públicas, para a mesma faixa etária. O estudo não abordou as razões dessa diferença.

De acordo com Glauco, é importante identificar esse tipo de transtorno ainda na adolescência para evitar sua evolução para problemas mais graves, como o abuso de drogas e a depressão.
— Acredita-se que adolescentes que apresentam esses transtornos têm risco maior para desenvolver tabagismo e abuso de outras drogas. Mas isso é algo que ainda temos que investigar — pondera. — Na adolescência, é frequente a ocorrência de bullying, obesidade, a busca pelo corpo ideal e todas as pressões decorrentes. Identificando os subgrupos de mais risco para desenvolvimento de transtornos mentais comuns, conseguiremos agir com mais precisão para ajudar esses adolescentes.

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