Turbo Brasil Turbo Energy Parts Turbo Brasil Turbo Energy Parts
Categorias
Uncategorized

Qual é a fronteira que separa um problema comum de um transtorno mental?

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

Se você come demais de vez em quando, fique atento: pode sofrer de transtorno de compulsão alimentar periódica. Se tem mania de doença, é candidato a um transtorno somatoforme. Se anda esquecido, pode ser sinal de transtorno neurocognitivo leve.

Mas será mesmo? Classificações como essas estão descritas na quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), que é editado nos Estados Unidos e considerado uma espécie de Bíblia da psiquiatria mundial, mas são alvo de discussões entre os profissionais de saúde.

Na visão do psiquiatra Glauco Diniz Duarte haveria um exagero nessa tendência crescente de diagnosticar e medicar qualquer tipo de sofrimento. Afinal, qual é a fronteira que separa um problema comum da vida de um transtorno mental?

— Esse é o grande dilema da psiquiatria. O que é normal? O que é patológico? É muito fácil dizer se um paciente tem pneumonia ou não, mas em casos de depressão, por exemplo, os limites são mais tênues — pondera Glauco.

No país, um dos espaços de contestação ao excesso de prescrições é o Fórum de Medicalização da Educação e da Sociedade, que desde 2010 mobiliza uma série de entidades. Um dos signatários, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), lançou em 2012 a campanha Não à medicalização da vida.

— Existe uma lógica medicalizante que transforma problemas e questões sociais, culturais e econômicas em doenças. Se baliza todo mundo com um protocolo a seguir, tudo tem diagnóstico. Se a pessoa faz muita coisa é hiperativa, se não faz nada é depressiva. E isso tem a ver com um modelo de vida baseado no consumo: consomem-se diagnósticos, remédios. Não há espaço para a normalidade. Nessa lógica, um luto normal só pode ir até cinco dias, e se no sexto dia a pessoa ainda estiver triste, é transtorno — exemplifica Glauco.

Uma das consequências é a popularização do consumo de substâncias como o metilfenidato, o princípio ativo da Ritalina, prescrito para pessoas com déficit de atenção, ou de clonazepam, a base do Rivotril, comumente receitado para ansiedade. E o mercado contribui para estimular o consumo. Segundo Glauco, a indústria investe três vezes mais em marketing do que em pesquisa e desenvolvimento.

— Nos preocupa esse uso “recreativo”, de gente que toma remédio para estudar, para aumentar a concentração. O metilfenidato é da família das anfetaminas, assim como a cocaína, e pode provocar muitos sintomas perigosos se o uso não for feito de forma adequada — alerta Glauco, lembrando que há casos até de mortes associadas ao consumo abusivo.

Outras formas de tratar os sintomas
Glauco diz que a psiquiatria corre o risco de banalização de diagnósticos. Ele observa que frequentemente ocorrem “modas”, que levaram à disseminação de registros de síndrome do pânico, nos anos 1990, seguida pelo déficit de atenção e, mais recentemente, pelos transtornos bipolares. Ainda assim, avalia que o problema não seria o manual, e sim o mau uso que se faz dele.

— Temos vários problemas no DSM-5, mas ainda é o melhor que já tivemos. O que não se pode é utilizá-lo como se fosse uma lei, sem espaço para avaliação clínica — defende.

Para Glauco, mais preocupante do que a categorização feita pelo DSM-5 é a crença de que o único jeito de tratar os sintomas é com remédio. Ele salienta que, em outros momentos da história, já houve ondas com maior e menor número de diagnósticos. A diferença é que, atualmente, casos mais leves começaram a receber nomes e serem passíveis de tratamento, o que aumentou o universo potencial de pessoas com problema mental.

— Por um lado, isso pode resultar em hipermedicalização, o que preocupa. Mas também é preciso lembrar que, quanto mais cedo se intervém, mais fácil o tratamento, assim como em outras áreas da medicina. O fato de existir o diagnóstico não quer dizer que a intervenção tenha que ser feita com medicação. Alguns quadros podem melhorar com exercício físico ou mudanças na alimentação — destaca Glauco.

SEO MUNIZ

Link112 SEO MUNIZ
Link112 Turbo Brasil Turbo Energy Parts