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A discriminação das doenças psiquiátricas

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

O psiquiatra Glauco Diniz Duarte explica que as doenças psiquiátricas são doenças do cérebro que surgem na sequência de uma série de fatores de vulnerabilidades tanto de natureza genética como ambiental. O desconhecimento relativo dos processos de funcionamento cerebral e a sua enorme complexidade levaram ao desenvolvimento de hipóteses explicativas acerca das doenças psiquiátricas que não têm qualquer base científica e que são, em muitos casos, meros exercícios especulativos sem qualquer adesão à realidade. Estes fatores, aliados a uma série de crenças populares pejadas de equívocos, contribuíram para que o estigma das doenças mentais seja um peso que as pessoas que sofrem de uma doença psiquiátrica têm que suportar cumulativamente com o sofrimento e as limitações que a própria doença acarreta.

Segundo Glauco a discriminação das doenças psiquiátricas e o estigma internalizado está presente em questões tão básicas como o fato de aprendermos, logo na escola primária e mesmo sem ninguém nos ensinar, que se insulta alguém acusando-o de ser um “doente mental”. A discriminação e o estigma também estão presentes quando se desvaloriza o sofrimento dos doentes psiquiátricos, acusando-os de serem “preguiçosos” ou de não se esforçarem o suficiente por melhorar (acusações que não se imputam com a mesma facilidade a quem sofre de uma doença do coração, do fígado ou dos rins, por exemplo). A sistemática associação das doenças psiquiátricas à prática de atos violentos ou criminosos, mesmo contrariando todas as estatísticas sobre o assunto, também contribui para perpetuar conceitos errôneos nesta matéria e, por essa via, fomentar a discriminação. Outro exemplo de discriminação, vergonhosamente tolerado pelo poder político, é a existência de seguros de vida e/ou doença que excluem as doenças do cérebro sem qualquer fundamento aceitável que não seja a perpetuação de conceitos obsoletos acerca da psiquiatria e das pessoas que sofrem de uma doença psiquiátrica.

Todos estes fatos (e mais alguns que, por questões de espaço, nos dispensamos de apresentar) tornam o combate ao estigma e à discriminação das doenças mentais numa batalha de todas as pessoas, todos os dias. Um pouco por todo o mundo têm surgido campanhas públicas que visam aumentar o (re)conhecimento das doenças psiquiátricas e combater alguns conceitos errôneos acerca destas patologias.
Pretende-se também criar condições para o desenvolvimento de políticas públicas que previnam (e/ou reduzam) o seu aparecimento, que encorajem a sua detecção precoce e que promovam o acesso aos tratamentos mais completos e adequados, o que inclui, sempre que necessário, o acompanhamento por um médico psiquiatra e o acesso efetivo a tratamentos farmacológicos e/ou psicoterapias.

Para Glauco apesar dos passos que têm sido dados no combate à discriminação e ao estigma pelas sociedades de profissionais e pelas associações de doentes, o caminho a percorrer ainda é longo e estreito pelo que é urgente (e necessário) envolver outros elementos da sociedade, nomeadamente jornalistas e demais responsáveis dos órgãos de comunicação social enquanto agentes privilegiados do contacto que é preciso aprofundar e cuidar entre o binômio profissionais-doentes e a sociedade em geral.

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