As medidas para o corpo perfeito, ditadas pela atual sociedade são impiedosas. Meninas que crescem em meio as imposições de beleza, estão vulneráveis e podem desenvolver diversos transtornos alimentares. Vamos abordar duas doenças que são extremamente perigosas, causadas principalmente pela busca do corpo perfeito: Bulimia e Anorexia,transtornos alimentares distintos, mas que caso não sejam tratados, podem levar a morte.
O médico psiquiatra Glauco Diniz Duarte, esclarece algumas dúvidas. Em relação aos transtornos alimentares explica. “Os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial de um indivíduo. Dessa forma, são transtornos do comportamento alimentar e dos comportamentos voltados ao controle de peso. Enfatizarei a anorexia e a bulimia nervosa”, revela.
Glauco comenta o gênero e a idade em que o transtorno é mais decorrente. “Assim como a maioria dos transtornos psiquiátricos, os transtornos alimentares têm o início dos sintomas na adolescência e início da vida adulta. A anorexia nervosa (AN) apresenta dois picos maiores do início dos sintomas, entre 13 e 14 anos e entre 17 e 18 anos. A bulimia nervosa (BN) apresenta o início do sintomas entre 12 e 25 anos e pico de incidência por volta dos 18 anos. A anorexia manifesta-se 10 a 20 vezes mais em mulheres do que em homens e 10 vezes mais na bulimia”.
Sobre o diagnóstico e tratamento Glauco alerta. “O diagnóstico é clínico e deve ser realizado por um profissional da saúde baseando-se na história clínica completa, exame físico completo e, se necessário, exames complementares. A abordagem aos transtornos alimentares deve ser a feita por uma equipe multidisciplinar, composta de psiquiatra, psicólogo, nutricionista e clínico geral (endocrinologista, gastroenterologista, pediatra, nutrólogo, dentre outros). O psiquiatra costuma ser o coordenador do processo terapêutico, mas, em alguns casos, o papel do coordenador pode ser qualquer membro da equipe que seja considerado como a principal referência para a família ou para o paciente”.
Outro fator relevante são as consequências de desenvolver os transtornos. “As consequências relacionadas aos transtornos alimentares são muitas e estão relacionadas à perda de peso e à purgação (vômitos e abuso de laxantes). Alguns exemplos de consequências médicas relacionadas à perda de peso incluem: nutricionais (desnutrição grave, deficiência de vitaminas), cardíacas (arritmias, morte súbita), gastrointestinais (dor abdominal, constipação), reprodutivas (alterações menstruais, níveis baixos de hormônios), dermatológicas (pelos finos, edema), esqueléticas (osteoporose), neuropsiquiátricas (alteração do paladar, depressão, alteração cognitiva). As consequências relacionadas à purgação incluem: metabólicas (alterações dos eletrólitos que podem causar parada cardíaca), dentárias (cáries, erosão do esmalte dentário), gastrointestinais (aumento e inflamação das glândulas salivares, gastrite), neuropsiquiátricas (convulsão, fraqueza, neuropatia, fraqueza). A morte geralmente é decorrente de alterações hidroeletrolíticas e nutricionais que alteram a condução do ritmo cardíaco, infecções. Infelizmente, o prognóstico não é bom na anorexia e estudos demonstram uma taxa de mortalidade na faixa de 5 a 18%. A bulimia parece ter um melhor desfecho do que a anorexia e vai depender da gravidade das sequelas da purgação, mas pode levar a morte também”, pontua Glauco.
Para que a identificação e o tratamento sejam eficazes é necessário a participação de toda a família, explica Glauco.”A família é muito importante no tratamento de uma pessoa que sofre de transtorno alimentar. O apoio aos familiares e a compreensão dos sintomas pelos mesmos são fundamentais para que haja uma evolução no entendimento e aceitação desta doença. Familiares e pessoas próximas ao portador da doença devem intervir sobre o comportamento disfuncional com muito respeito e compreensão, evitando discursos punitivos ou de recriminação. Para tanto, a família deve estar estruturada e participar do tratamento. Na primeira suspeita, um profissional da saúde mental deve ser procurado imediatamente para iniciar o tratamento e acompanhamento apropriado”, complementa.
Conforme Glauco, deve-se realizar o diagnóstico e iniciar o tratamento o quanto antes (precocemente) para evitar as complicações da doença, as quais podem resultar em prejuízos significativos em inúmeras esferas da vida (social, acadêmica, profissional, familiar), inclusive, podendo levar a morte. Além disso, normalmente a evolução do quadro é mais favorável quanto mais precoce for às intervenções.