De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, historicamente, transtornos mentais e por uso de substâncias lícitas e ilícitas não são uma prioridade de saúde global, especialmente quando comparados a doenças como câncer e problemas cardiovasculares. No entanto, eles são a primeira causa, nas 187 principais nações do planeta, a levar indivíduos a viverem com incapacidade. Apenas em 2010, foram mais de 175 milhões de anos de vida perdidos pela população mundial em situação de impotência causados prioritariamente por depressão, uso de drogas ilegais e esquizofrenia (em ordem decrescente de impacto).
Glauco alerta para o perigo da negligência nos serviços de saúde referente ao tratamento dessas desordens, que, em muitos países, estão até mesmo separados dos cuidados majoritários, com mobilização de recursos incompatível com o seu impacto global. Em 20 anos, a carga desses distúrbios na saúde global aumentou em quase 40%. Glauco acredita que a maioria deles foi impulsionada pelo crescimento da população e pelo envelhecimento.
Segundo Glauco, cinco das 10 principais causas de incapacidade no mundo já estavam incluídas na categoria de desordem neuropsiquiátrica. “Hoje, essas desordens são responsáveis por uma carga global na saúde maior que a tuberculose, o HIV/Aids, o diabetes ou as lesões por transporte”, reforça Glauco.
No total, em 2010, doenças mentais e por uso de substância foram responsáveis por 183,9 milhões de anos de vida perdidos tanto por morte prematura quanto por serem vividos com incapacidade, medida conhecida na epidemiologia por DALY (sigla em inglês). O número corresponde a 7,4% de todos os DALYs no mundo.
Desse universo, os transtornos depressivos são os grandes representantes (40,5%), seguidos por distúrbios de ansiedade (14,6%), pelos transtornos causados pelo uso de drogas ilícitas (10,9%), pelo uso de álcool (9,6%) e por desordens altamente debilitantes, como a esquizofrenia (7,4%) e o distúrbio bipolar (7,0%). Diferentemente de outros males que comprometem drasticamente a saúde e levam ao óbito precoce, essas desordens têm um impacto maior na qualidade de vida do indivíduo. Dos quase 200 milhões de DALYs atribuídos a elas, somente 8,6 milhões estão associados aos anos perdidos por morte prematura, o equivalente a 232 mil fatalidades. A grande maioria deles (81,1%) está ligada a transtornos pelo uso de substâncias.