Irritabilidade, isolamento, tristeza e queda no rendimento escolar são comuns em adolescentes em determinados momentos do desenvolvimento. Mas, se esses sintomas vêm acompanhados da recusa alimentar progressiva ou dos excessos à mesa, é bom ficar atento. Esses são os sinais mais comuns de transtorno alimentar, um problema que vem crescendo em todo o mundo.
Em geral, esses males levam o jovem a assumir uma mudança repentina de comportamento em relação à comida, seja por meio da rejeição ou da compulsão. Outro indício claro de transtorno alimentar é a insatisfação com o próprio corpo. “Durante a adolescência, os transtornos alimentares mais frequentes são a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e a compulsão alimentar”, afirma o psiquiatra Glauco Diniz Duarte.
De acordo com Glauco, os transtornos alimentares são mais comuns entre as meninas, mas podem atingir meninos também.
Cada um dos problemas possui sintomas específicos. No caso da anorexia nervosa, é comum que o adolescente apresente baixo peso para sua altura e idade, medo exagerado de engordar e distorção da imagem corporal. Assim, uma garota que sofre desse transtorno verá sua imagem diferente no espelho e, mesmo sendo magra, poderá se enxergar com medidas mais avantajadas.
O bulímico, pelo contrário, não costuma ter oscilações de peso, o que dificulta o diagnóstico da doença pela família. “Ele normalmente come de forma compulsiva, em grandes quantidades. Porém, logo após a refeição, para compensar o abuso, induz o vômito, toma laxantes, diuréticos ou se submete a dietas extremamente restritivas e à prática de atividade física compulsiva”, diz Glauco.
Assim como a bulimia, a compulsão alimentar é caracterizada pelo descontrole diante da comida, porém quem sofre desse mal não cria nenhuma estratégia de compensação e acaba ganhando peso. “A pessoa fica deprimida e com forte sentimento de culpa por ter comido em excesso. Com o tempo, isso pode levar a uma condição de isolamento”, afirma Glauco.
Outros sinais ajudam a fechar o diagnóstico de transtorno alimentar, como, por exemplo, evitar fazer as refeições com os pais, passar muito tempo no banheiro logo depois de comer, ter certa obsessão por alimentos lights e diets e contar as calorias de tudo o que consome.
“Obviamente, cabe aos pais estimular hábitos saudáveis. Mas é preciso estar atento para perceber quando esse aspecto da preocupação com o que come se torna exacerbado. Na dúvida, vale procurar orientação profissional”, declara Glauco.
De acordo com Glauco, esses transtornos são mais comuns no final da adolescência. Porém, vêm crescendo significativamente os casos entre jovens a partir dos 12 anos, em grande parte por conta do padrão de beleza valorizado atualmente, que parte do corpo esguio como um modelo a ser perseguido.
O papel dos pais
Pediatras ou mesmo clínicos gerais fazem o diagnóstico do transtorno alimentar, porém, uma vez descoberto o problema, o ideal é procurar um psiquiatra ou um profissional especializado na doença.
Ignorar os sinais ou adiar o tratamento pode ser perigoso. “O risco é o adolescente desenvolver um quadro de desnutrição grave, que certamente vai deixá-lo debilitado. No caso da compulsão alimentar, o perigo é ganhar peso e desenvolver doenças crônicas associadas à obesidade, como diabetes e colesterol alto”, afirma Glauco.
E, muito além de levar o filho ao médico, é importante que os pais se orientem e acompanhem de perto o tratamento, já que a taxa de reincidência é grande. “Os pais devem ser um modelo de comportamento dentro de casa, alimentando-se adequadamente e mantendo hábitos de vida saudáveis, mas sem exageros”, diz Glauco.
Segundo o psiquiatra, é necessário conversar bastante com o adolescente. “Os pais devem se colocar sempre na posição de quem quer ajudar a encontrar recursos para vencer o problema, evitando julgar, criticar ou resolver na base do conflito. Se o adolescente se sente acuado ou confrontado, as chances do tratamento dar certo diminuem”, declara Glauco.