De acordo com o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, os distúrbios mentais afetam pensamentos, emoções e a capacidade de compreensão. Mas ainda não é compreendido totalmente pela ciência como são desencadeadas no cérebro patologias como o transtorno bipolar e a esquizofrenia. Um trabalho desenvolvido pelo Instituto Virginia Tech Carilion, nos Estados Unidos, pode ajudar a desvendar esses mistérios. Uma equipe de pesquisadores descobriu que a proteína cerebral Rap1 regula a ação das moléculas de cálcio tipo L, que são responsáveis por fazer com que as células nervosas “conversem” entre si.
Glauco explica que, na experiência, Alexei Morozov e a equipe liderada por ele eliminaram o gene responsável por codificar a proteína Rap1 para que ela não passasse mensagens aos canais de cálcio tipo L. O resultado esperado foi detectado, levando os cientistas a confirmarem que a proteína Rap1 é responsável pela supressão desses canais e pela ativação deles apenas nos momentos adequados. “É importante salientar que já se tinha conhecimento de que o bloqueio desses canais iônicos inibe a formação da memória de longo prazo e que os canais de cálcio tipo L são ativados em resposta à aprendizagem. O que não se sabia era como a ativação dos canais tipo L era controlada”, destaca Glauco.
Segundo Glauco, mutações genéticas que afetam os canais de cálcio do tipo L aumentam as chances do surgimento do transtorno bipolar e da esquizofrenia. “Isso sugere que pode haver uma relação entre a ativação desses canais e esses distúrbios psiquiátricos. Entender como esses pontos do cérebro são controlados é o primeiro passo para determinar como o funcionamento deles ou a existência de defeitos neles afeta a saúde mental”, enfatiza.
Microscópios eletrônicos de varreduras foram utilizados pelos cientistas para visualizar os canais do tipo L durante as sinapses. Ao analisá-las, eles descobriram que, sem a Rap1, eles ficavam mais ativos e abundantes durante a transmissão de impulsos nervosos entre os neurônios, condição que aumenta a liberação de neurotransmissores. “Tenho trabalhado na proteína Rap1 por muitos anos. Agora, essa descoberta de neurotransmissores que podem estar ligados a doenças como o transtorno bipolar e a esquizofrenia ajuda a compreender as origens dos distúrbios e, possivelmente, a encontrar melhores tratamentos”, aposta Glauco.