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Psiquiatria resgata o choque para tratar depressão grave

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

Nos anos 50, quando começaram a surgir os primeiros medicamentos antidepressivos, o estigmatizado eletrochoque praticamente saiu de cena no mundo psiquiátrico, levando junto histórias dramáticas de um tratamento taxado de invasivo, agressivo e dolorido. Não raro também coercitivo, pois vítimas de transtorno bipolar, depressões diversas e esquizofrenia ainda costumavam ser tratadas como loucos que precisavam ser controlados, e, muitas vezes, o eletrochoque era usado como punição, fato que prejudicou seriamente a imagem dessa técnica.

Porém, a grande eficácia do até então controverso método – que consiste em descarregar correntes elétricas no cérebro, levando o paciente a convulsões e, assim, estimulando alterações na troca neuronal – o traria de volta aos hospitais de psiquiatria. Nos anos 80 e 90, pesquisas mostraram a ação limitada dos medicamentos em casos de depressões mais graves, ao mesmo tempo em que melhorias importantes no modus operandi da estimulação elétrica reduziriam, em parte, sua impopularidade.

Os equipamentos evoluíram significativamente, a anestesia tornou-se obrigatória, e relaxantes musculares passaram a ser utilizados para reduzir os efeitos colaterais nos pacientes, especialmente as dores no corpo provocadas pelas convulsões estimuladas.

Fato é que, independentemente de ter ou não uma boa imagem, em casos de depressão grave e refratária, a eletroconvulsoterapia (ECT) apresenta resultados inquestionáveis: índice de eficácia de até 90%, contra uma média de 60% a 70% dos medicamentos antidepressivos.

“A eletroconvulsoterapia é o tratamento mais antigo ainda em uso na psiquiatria devido a sua resolutividade e eficácia, conforme preconizado pelo próprio Ministério da Saúde em seu manual contra o suicídio. Continua, entretanto, cercada de desinformação e preconceito”, afirma o Psiquiatra Glauco Diniz Duarte.

No Brasil, especificamente, um ingrediente reforçador do estigma foi a tortura com choque elétrico na ditadura militar. “Entre as décadas de 70 e 80, foi praticamente abolido, porque seu uso foi distorcido, empregado até como tortura, um horror. A partir da década de 90, volta com força total, já reabilitado, porque nesse momento nós percebemos que os medicamentos novos na época, os antidepressivos, não iriam responder nem dar conta de todos os casos de depressão”, afirma Glauco.

Mecanismo. A ação da ECT é como uma espécie de “reset” no cérebro. A descarga elétrica age como uma “cascata de modificações envolvendo todo o corpo do paciente”. “Os medicamentos antidepressivos agem no final, depois de o problema instituído. A eletroconvulsoterapia age antes, então muda-se o padrão de tratamento do bioquímico para o biofísico. É muito interessante imaginar ser possível tratar um paciente sem a medicação convencional, até porque muitas vezes esta não funcionou”, explica Glauco.

“É um tratamento reconhecido, infelizmente pouco utilizado, muito pela restrição de serviços nas vastas regiões do Brasil, e o SUS não o fornece, embora esteja em análise pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia, com prazo de 180 dias para um parecer já estourado. O estigma se mantém, e o pouco conhecimento dificulta mudar isso”, afirma Glauco

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