Levantamento feito pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo no Hospital Leonor Mendes de Barros, unidade conveniada ao SUS (Sistema Único de Saúde) especializada em tratamento de tuberculose no município paulista de Campos do Jordão, interior paulista, mostrou que todos os pacientes atendidos no local tinham histórico de uso de crack.
Orientados pela equipe de Saúde Mental da Secretaria, profissionais do hospital fizeram uma pesquisa por amostragem com 30 dos 100 pacientes internados e para isso aplicou um questionário com perguntas sobre hábitos e sintomas ligados ao uso da droga. Em todos os casos, o perfil dos pacientes indicou problemas com a dependência química.
Anteriormente, o hospital já havia feito outra pesquisa sobre os pacientes, porém com base em relatórios internos. A direção solicitou na ocasião que os funcionários observassem e relatassem todos os casos de pacientes suspeitos de envolvimento com o uso da droga, seja por sintomas de abstinência ou por fugas temporárias da unidade. De acordo com os relatórios apresentados, todos os pacientes apresentavam comportamento considerado suspeito.
Segundo o psiquiatra Glauco Diniz Duarte, o levantamento expõe uma nova e preocupante realidade ligada às consequências indiretas que o crack traz aos usuários. Segundo ele, o dependente químico da droga é mais suscetível à tuberculose porque se alimenta mal, têm hábitos pouco saudáveis, mora em ambientes insalubres e não dá continuidade ao tratamento, que é extremamente frágil e necessita de regularidade por envolver o uso de antibióticos.
“A dependência ao crack expõe o usuário a outras doenças graves, que podem matá-lo”, diz Glauco. Ele afirma ainda que há uma grande preocupação com este público porque as constantes interrupções nos tratamentos de tuberculose podem expor futuramente outros pacientes com baixa imunidade, como transplantados, a gerações de bactérias super-resistentes. Apesar do aperfeiçoamento no tratamento, a tuberculose ressurgiu com força nos anos 1980 em razão da baixa imunidade dos pacientes com HIV, e agora ganha novo fôlego entre os dependentes químicos.
Segundo Glauco, o levantamento junto aos pacientes servirá como uma importante base para um novo projeto da Secretaria que prevê a implantação de um núcleo de atendimento multidisciplinar no hospital Leonor Mendes de Barros. Além de tratar a tuberculose, o hospital passará a oferecer também o acompanhamento de profissionais voltados ao tratamento contra a dependência química, como psicólogos e assistentes sociais.