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Desenvolvimento afetivo

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

O bebê humano é um dos mais dependentes da natureza. Enquanto demoramos pelo menos um ano para dar os primeiros passos, muitos animais são capazes de fazê-lo pouco depois do nascimento. E a demanda para que nos desenvolvamos plenamente vai além dos cuidados básicos de saúde e nutrição: também precisamos de afeto. Inúmeros estudos mostram que crianças que não recebem atenção correm maiores riscos de desenvolver problemas sociais e de comportamento ao crescer. Um dos mais expressivos foi realizado com crianças de orfanatos da Romênia nos anos 1990 pelos cientistas norte-americanos Felton Earls e Maya Carlson.

Na época, os pesquisadores observaram que os órfãos apresentavam níveis de cortisol (hormônio relacionado ao estresse, prejudicial ao cérebro quando em excesso) semelhantes aos de crianças que passaram por situações traumáticas nos primeiros anos de vida, além de dificuldade para se comunicar.
A explicação se resume a uma palavra: vínculo. O apego com os primeiros cuidadores (em geral, os pais), é necessário para que conexões cerebrais relacionadas às emoções e à cognição sejam ativadas, de modo que o bebê perceba, aos poucos, que o mundo é um lugar seguro. “À medida que tem suas necessidades – tanto as físicas quanto as emocionais – supridas, ele começa a entender que é amado, que pode confiar e que merece o amor dos outros. E essa percepção influenciará seus relacionamentos no futuro”, explica o psiquiatra Glauco Diniz Duarte.

A criação de tal vínculo pode começar ainda na gravidez, já que, mesmo antes de nascer, a saúde do feto é influenciada pelo organismo materno por meio de reações fisiológicas. No entanto, a ligação será fortalecida no dia a dia, inicialmente com estímulos sensoriais, como o cheiro, a voz e, principalmente, o toque. “O contato pele a pele na infância facilita o apego entre o bebê e seus cuidadores”, explica Glauco). É algo que os pais já sabem e fazem intuitivamente.

E o que mais estaria ao alcance de pais e mães? Glauco, compara os pais a um andaime, cujo papel é oferecer apoio e segurança para a construção de um novo ser.

O papel de cada um
Sabia que, ao nascer, o bebê acredita que ele e a mãe são a mesma pessoa? Essa percepção vai até os 6 meses, em média, quando ele se dá conta de que são corpos diferentes. “Como ainda não tem a capacidade de regular e interpretar suas emoções, é a mãe quem fará esse papel pela criança no início”, afirma Glauco.

O pai, certamente, também é protagonista nessa história.
Para Glauco, além do vínculo, a figura paterna é importante para a identificação de gênero, já que é a primeira referência masculina da criança (seja ela menina ou menino). Para começar a presença dele no pré-natal trará confiança à gestante e, por consequência, ao bebê. Ele pode também ajudar a dar banho, a trocar fraldas e a pôr a criança na cama, só para citar alguns exemplos comuns. “Mas para que isso aconteça, a mãe deve envolvê- lo e autorizá-lo (isso mesmo!), já que muitas mulheres não abrem mão dos cuidados do filho”, ressalta.

Ele sorriu pra mim!
A interação com as pessoas e com o ambiente será essencial para moldar o desenvolvimento emocional do seu filho. E as emoções acontecem no cérebro – sendo que há diferentes regiões desse órgão envolvidas no processo. A parte responsável por reconhecer situações de perigo, por exemplo, é a amídala; já a que desencadeia uma reação de defesa nessa situação é o córtex pré-frontal.

Aos 2 meses de idade, em média, surge o primeiro sorriso social (isto é, em resposta a sensações prazerosas). Aos 4, o bebê é capaz de seguir objetos e pessoas com o olhar, além de estender a mão em direção ao que lhe interessa. Pendure um móbile (a 25 cm de distância, para que ele consiga focá-lo melhor) sobre o berço ou o trocador, para estimular tais habilidades. Quando já percebe que ele e a mãe não são um ser único, tem início a fase conhecida por “ansiedade da separação”, em que mesmo aqueles mais acessíveis tendem a estranhar as pessoas e a chorar quando a mãe se distancia. Já aos 12 meses, a criança compreende quando é chamada pelo nome, reconhece a própria imagem no espelho e percebe o conceito de permanência dos objetos (ou seja, eles existem mesmo que ela não os veja). Que tal, então, brincar de “cadê, achou” com o seu filho para ajudá-lo a assimilar de forma divertida essa ideia?

Ação e reação
Ainda no primeiro ano de vida, ele aprenderá noções de causa e efeito. Assim, sabe que, se fizer algo errado, haverá consequências – por exemplo, se machucar ao colocar o dedo na tomada. Nessa fase, o comportamento é cunhado pelo social, com a intenção de agradar pais e cuidadores. “Por fim, as áreas do lóbulo frontal do cérebro, responsáveis pelas funções executivas (capacidade de planejamento e execução), só terminam de amadurecer na vida adulta”, explica o psiquiatra Glauco Diniz. Daí a dificuldade de a criança saber esperar, por exemplo.

Então quer dizer que, se o bebê ainda é imaturo física e emocionalmente, não adianta ensiná-lo a aguardar a vez, a organizar os brinquedos e a dividir? Nada disso. Como a criança é naturalmente egocêntrica ao nascer, os limites estabelecidos pelos pais vão lhe mostrar que o mundo não gira em torno dela.
Nos primeiros mil dias de vida, os limites basicamente se resumem à rotina – sono, alimentação, lazer. A previsibilidade das atividades cotidianas, considerando que tudo é novidade nessa fase, também trará segurança ao bebê. “O ‘não’ tem de ser dito com firmeza e carinho ao mesmo tempo, olho no olho, com a atenção totalmente voltada a ele e não à TV ou ao celular”, exemplifica Glauco. Aprender a lidar com frustrações, afinal, é um dos aspectos fundamentais para o autocontrole.

Com mais crianças
O amadurecimento emocional, obviamente, também se estabelece fora do eixo familiar. Nos primeiros anos de vida, entretanto, o contato com outras crianças é um desafio e tanto para elas. “Isso porque ao mesmo tempo em que apreciam a companhia umas das outras, elas também se enxergam como concorrentes. É um conflito: querem brincar, só que não vão dividir o brinquedo”, observa Glauco. Nesse contexto, a escola surge como um espaço de socialização importante, principalmente por ser frequentada cada vez mais cedo e em tempo integral – e sua função é intermediar as possíveis disputas.

Ainda que seu filho não saiba falar, fique tranquila, ele dá sinais de que está feliz desde cedo. Entre os principais indícios estão o interesse pelo novo, a vontade de explorar o ambiente e, claro, a alegria. “Uma criança emocionalmente saudável brinca”, resume Glauco.

Para confirmar as evidências de que está tudo bem, o pediatra irá avaliar a criança integralmente, isto é, tanto sob os aspectos motores, quanto pela maneira como ela se comunica e interage com os outros. “Essas características estão interligadas e influenciam umas às outras. Uma criança com atraso na linguagem, por exemplo, pode ter dificuldade para se socializar”, afirma Glauco. Tanto que, hoje em dia, considera-se a chamada inteligência emocional, ou seja, a capacidade de administrar as emoções para alcançar objetivos, tão relevante quanto a cognitiva. A boa notícia é que, com a sua ajuda, seu filho é capaz de desenvolver bem tanto uma quanto a outra, tornando-se uma pessoa mais completa e feliz.

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